— Eugênio Bucci, O Estado de SP, 30/10/2025
Nascemos como mera feitoria, ponto de apoio para naus sedentas de água, remanso de piratas e aventureiros. Na Colônia, sem povo, nosso destino foi traçado como economia primário-exportadora fundada na escravidão de negros e indígenas, a serviço das demandas do consumo europeu, via Lisboa — a metrópole decadente, salvando-se como entreposto de nosso comércio: pau-brasil, açúcar, minérios, algodão, carne, café... — que exportávamos, e de entrada do que necessitávamos, que era quase tudo.
Essa economia e esse comércio estabeleciam as bases da
aliança do latifúndio e da incipiente burguesia comercial (que incluía os
comerciantes, os traficantes de gente e os contrabandistas, de um modo geral)
com a Coroa portuguesa e seus primeiros agentes — exatores do fisco, militares
e o clero. Eram as raízes de uma estranha nação sem povo e, assim, sem projeto.

