Os crimes da imprensa Publicada hoje em página inteira em "O Globo", a sentença do juiz Fabrício de Fontoura Bezerra, condenando o jornal por crimes contra a honra de Eduardo Jorge Caldas Pereira, homem de confiança do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é um documento relevante para se entender os limites da liberdade de imprensa.Em um momento em que se considera ameaça à imprensa a mera menção do telefone de um jornal em um inquérito policial, o resumo dos ataques sofridos por Eduardo Jorge em apenas um jornal, é chocante.Vítima de um conluio entre jornalistas e procuradores, ambos inescrupulosos, Eduardo teve sua vida devassada, sofreu acusações das mais graves provindas de fontes em "off", sem poder se defender. Foi comparado a PC Farias, acusado de liberar verbas para o TRT em São Paulo, em uma campanha sórdida "porque fundamentalmente ideológica" comandada pelo procurador Luiz Francisco, mas com o beneplácito de jornais, que podiam usufruir das manchetes escandalosas. Seria interessante comparar os abusos contra sua privacidade com esse episódio do número de telefone divulgado pela PF. Desde então, Eduardo Jorge empreendeu a maior luta individual que um indivíduo já ousou contra os crimes de imprensa no Brasil. Foi obsessivo, a ponto de às vezes extrapolar. A cada nota que saía em jornal, mandava cartas reclamando ser ouvido.A sentença do juiz coloca nos devidos termos a questão da liberdade de imprensa. Reconhece com uma das liberdades fundamentais em uma democracia. Mas, assim como os demais poderes, não existe liberdade ilimitada. "Para coibir esses excessos, esses desvios de ética, esses abusos no exercício da liberdade de escrever e de pensar, foi que os legisladores de todos os tempos, fixando limites a essa liberdade, classificaram de delitos os desmandos dos autores. Sem esse freio legal, a imprensa, de dínamo propulsor da civilização, se tornaria, em mãos inescrupulosas, num látego da liberdade". Que a luta de Eduardo Jorge, um marco contra os abusos da imprensa, assim como foi o caso Escola Base, receba o devido reconhecimento de todos aqueles que batalham pelo aprimoramento e democratização da mídia, independentemente de cor política.
enviada por Luis Nassif