Depois da truculência do Beto Richa, eu me pergunto como
ficam esses colunistas da Veja e da Globo que vivem chamando o Lula, a Dilma e
a Cristina de ditadores. Ou será que democracia para eles é o regime dos
generais Médici, Pinochet e de Videla, a que eles jamais aludiram como
ditadores, em seus textos. Pelo contrário, os generais-presidentes da fase mais
obscurantista da América Latina (1960-1980) , eram por eles tratados
reverencialmente como estadistas, mesmo que passaram todos os seus governos
prendendo, torturando, matando e perseguindo dissidentes, sobretudo estudantes
mal entrados na universidade?
A ação policial comandada pelo governador do Paraná, que
feriu 200 professores em protesto de rua em Curitiba, na semana passada, veio,
no entanto, lançar uma luz sobre os reais propósitos da arremetida midiática,
que quase derruba o atual governo brasileiro.
Lembre-se que, num movimento paralelo, a Câmara aprovava, quase na mesma
semana, o projeto da terceirização, reduzindo conquistas sociais, com diminuição
de salários, eliminação de garantias trabalhistas e inviabilizando os concursos
públicos. As duas ações, aparentemente independentes, mas interligadas dentro
do plano maior da reinstauração do neoliberalismo, o mesmo que se abateu sobre
nós por mais de 20 anos. Seu objetivo é, em última análise, transplantar para
cá as políticas recessivas hoje reinantes na Europa, que já quebraram a Grécia,
Espanha e Itália. Daqui a pouco vão querer dar em cima de nosso 13o. salário,
reduzir pensões e impor o congelamento salarial, como já se escuta nos
corredores do Congresso, pois, como se observa, a ordem é de maximizar os
lucros dos banqueiros e multinacionais, nem que a à custa do sangue do
trabalhador
Ainda bem que isso está vindo à tona, porque, assim, o país,
não de todo refeito do torpor das pirotecnias de rua e de mídia, vai se dando
conta da trama por trás do denuncismo que se apossou do noticiário nos últimos
15 meses. Mostra igualmente que eles não vieram para brincar e que estão
dispostos a trazer de volta a ditadura, não a de mentirinha, mas a verdadeira,
se preciso for. Nada mais sintomático, neste aspecto, do que a repressão de
Beto Richa. O passar do tempo serviu igualmente para demonstrar que a Petrobrás
não está assim tão mal, tendo, pelo contrário, voltado a puxar as ações da
bolsa, e que os envolvidos nos seus escândalos não eram só do PT, mas,
rigorosamente, de todos os partidos, inclusive os da oposição, à frente o PSDB
e o PMDB dissidente. A diferença é que os jornais só noticiavam e, em alguns casos,
com grosseiras manipulações, os políticos petistas, estes sem o mínimo direito
de defesa, tal qual fizeram no passado contra Leonel Brizola.
É importante que observemos que tanto o atual governo de
Richa, como o de Aécio Neves, em Minas, entre 2002 e 2010, constituem, com seu
“choque de gestão”, o jeito tucano de governar. Na verdade, esses dois meninos
mimados da mídia corporativa, aprofundam,
com sua perseguição a professores e funcionários públicos, a experiência
neoliberal do octênio de Fernando Henrique Cardoso (1994-2002), no plano
federal, quando o presidente eleito pelo PSDB, não só entregou nossas grandes
estatais a empresários amigos e associados, como também fez o trabalhador
amargar oito anos de congelamento salarial, enquanto o desemprego assumia
proporções alarmantes, e nosso florescente projeto de industrialização ia para
o brejo.
A estratégia real era baixar um pacotaço com a eleição Aécio
Neves, em 2014, que as elites consideravam como favas contadas, mas que
fracassou com a decisão do eleitorado de optar pela manutenção de Dilma
Rousseff como presidente da República, por mais quatro anos. Era tão evidente
este plano diabólico, que Aécio tinha nomeado por antecipação seu ministro da
Fazenda, Armínio Fraga. E quem é Armínio Fraga? É, um brasileiro-americano, com
residências no Rio e em Nova York e tido como dos principais agentes de George
Soros, um dos maiores especuladores internacionais e cérebro privilegiado da
ofensiva de desmonte dos pobres estados nacionais. Para cúmulo da coincidência,
o mesmo George Soros veio ao Brasil, na semana passada. Para jantar com FHC,
hoje, aos 83 anos, chefe dos tucanos e grande referência internacional da
privataria. Para os que não se recordam, Armínio Fraga tinha sido presidente do
Banco Central do mesmo FHC, trazendo evidentemente seu aporte técnico para o
desmantelo de nosso aparato estatal
Se mirarmos os exemplos recentes do Peru e do México, onde a
retomada privatista já engoliu as empresas de petróleo e os bancos oficiais,
com nova explosão do desemprego, numa incipiente blitz grieg neoliberal em
território latino-americano, podemos ter ideia de como também seriam aqui
abocanhados a Petrobrás, o Banco do Brasil e a Caixa Econômica, no caso da
eleição de Aécio ou de qualquer candidato bafejado pelas ondas ensurdecedoras
dos meios de comunicação. Mas se perderam o Palácio do Planalto, o esquema
golpista se apoderou do quorum qualificado da Câmara e do Senado, a partir de
onde começaram a agir, forçando-os a aprovar leis restritivas ao trabalhador,
os direitos individuais e à soberania nacional, como bem demonstra o projeto da
terceirização, já aprovado pela Câmara, e em ponto de bala para tramitar no
Senado.
Paralelammente, o projeto da terceirização, certamente, vai
abrir caminho, se não for sustado a tempo no Senado ou vetado pela presidenta,
para novas investidas do grande capital. Deus queira que não cheguemos aos
níveis da Espanha, onde, com essa mesma toada de “acabar com a corrupção” e
“flexibilizar o mercado de trabalho”, reduziu salários e eliminou benefícios
sociais do antigo wellfare state e ainda tomou as casas de quem não pôde pagar.
O desemprego nesta potência europeia, situa-se há mais de cinco anos numa média
de 25% (no Brasil, país emergente, situa-se em 6,2), sendo que, entre os
jovens, beira os 50%, e isso depois de três anos de uma reforma trabalhista
flexibilizadora, baixada por decreto-lei.
Como revela relatório da Organização Internacional do
Trabalho, o Brasil, ao lado da Argentina, foi o país que mais reduziu a
desigualdade salarial no mundo nos últimos dez anos, reduzindo a desigualdade
em 72%. O mesmo relatório (o Global Report 2014/15 on Wages and Income
Inequality) sustenta que aconteceu o contrário nas economias desenvolvidas. Onde
houve aumento da desigualdade social e da perda de empregos. É isso tudo que
quer eliminar os democratas com sua interminável obsessão em fazer o Brasil a voltar
à condição de país periférico, do qual se levantou a partir de 2003,
acompanhando a tendência autonômica de outros países progressistas da região,
que a mídia não cansa de chamar de ditaduras, mas que realizam eleições com
crescente participação popular.
Por FC Leite Filho.