Bastou um tiro para que o enredo
traçado na manhã de ontem, 20, pelo jovem William Augusto da Silva,
sequestrador do ônibus de Niterói tivesse sequência. Só que com outro ator na
cena do crime, o governador do estado do Rio de Janeiro Wilson Witzel. Não é de
hoje que esse personagem, saído das profundezas de uma justiça que pune com a
morte aqueles que lhes são diferentes socialmente vem dando mostras de
problemas psicológicos graves.
Se o rapaz cometeu crime? É
claro que sim. Ninguém pode discordar disto. Mas é que enquanto ele encenava seus
minutos de fama, chamando a atenção do país com imagens sendo exibidas ao vivo
por emissoras de televisão, locutores de rádios narrando segundo a segundo,
como se lá estivessem, tudo o que acontecia. O show já estava sendo montado
para o grand finale, e o sequestrador não contava que essa outra personagem já
estava, possivelmente, decidido o seu destino.
Ele não poderia sair do ônibus
vivo. Sua morte teria que ser transmiti em rede nacional para que Witzel desse
o seu show. E foi assim que aconteceu. Minutos após a morte do rapaz, desceu de
um helicóptero o governador fazendo a dança da morte em plena ponte Rio-Niterói.
Trazia ele uma cumpincha que o seguia de celular na mão gravando seu chefe
para, mais uma vez, possivelmente, usar em suas redes sociais. Foi a encenação
de um ator de quinta categoria aplaudido por uma claque que, diante de um corpo
caído e morto, aplaudia o mandante, aquele que deu a ordem muito antes de tudo
acontecer.
Eram 37, os reféns. E o pai de
um deles se mostrou mais digno que qualquer outra pessoa envolvida diretamente
om a situação. Paulo César Leal é pai de uma das vítimas de William Augusto.
Foi ele quem, ao ver uma mãe chorando a morte do filho, foi ao seu encontro dela
ainda na delegacia para consola-la. " naquele momento a dor é dos dois
lados. Eu não tenho poder de julgar nem falar qualquer coisa que seja boa. Só
falei para ela ter calma e confiar. O que eu vou dizer para ela, de conforto?
Não tem o que dizer", disse ele. Enquanto um homem simples, mesmo tendo a
filha envolvida no sequestro teve sentimento de compaixão, o governado Witzel
usou a tragédia para sua autopromoção.
Se não tivermos mais do que
nos indignarmos diante do clima de guerra que está instalado no Brasil, se isto
não mais tivermos condições de reagir contra a morte de pessoas nas favelas por
Snipes de Witzel, não merecemos mais existir com raça. Repito, William Augusto
da Silva, cometeu sim um crime, mas a sua morte foi usada para reafirmar a política
de morte instalada hoje no Rio de Janeiro.
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