O celular voador

Era uma manhã de terça-feira em Brasília, dessas em que o sol mal acorda e já se esconde atrás das nuvens pesadas. No apartamento funcional do deputado Antônio Doido, o clima não era de café com pão, mas de sirenes e botas batendo no corredor. A Polícia Federal chegava com seus mandados de busca e apreensão, e o parlamentar, mais nervoso que gato em dia de faxina, decidiu que seus segredos não poderiam ser descobertos.

Os agentes bateram à porta, anunciaram a operação, e o deputado, em vez de abrir com dignidade, correu para o quarto como se fosse protagonista de novela mexicana. Lá, agarrado aos celulares que guardavam conversas e talvez contratos suspeitos, tomou a decisão mais surreal da política recente, ele arremessou os aparelhos pela janela. Os vizinhos, que esperavam ver passarinho ou folha seca, viram cair na grama dois celulares voadores, pousando como se fossem pombos cansados. A cena virou piada instantânea entre os policiais, que recolheram os aparelhos com a calma de quem já viu de tudo.

O espetáculo grotesco ganhou contornos de farsa. Antônio Doido, suando em bicas, tentava explicar que não sabia como os celulares tinham ido parar lá fora, enquanto os agentes anotavam cada detalhe com ironia contida. O apartamento, cheio de papéis e lembranças de campanhas, virou palco de uma tragicomédia e o deputado que acreditou que a gravidade poderia salvar sua reputação. No fim, os celulares voaram, mas a vergonha ficou. Brasília, acostumada a escândalos, ganhou mais um capítulo para rir e compartilhar, o dia em que a política brasileira descobriu que provas também têm asas.

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