Direita em xeque

A implosão que se desenha no campo da direita brasileira não é um acidente, é a consequência previsível de um projeto político fundado em raiva, personalismo e táticas que queimam pontes mais rápido do que constroem alianças. O que hoje aparece como fraturas públicas, nomes que se batem, lideranças desmoralizadas, grupos que se autodissolvem em busca de protagonismo, tem um resultado claro, enfraquecimento coletivo diante de um adversário que, com voz e tática, busca governar com resultados e esperança.

A recomposição, na prática, exigiria autocontenção, política de conteúdo e disposição real para negociar. Nada disso brota espontaneamente de discursos que apostam na teatralidade e na vitimização. Enquanto a extrema-direita insiste em transformar divergências internas em espetáculos permanentes, o movimento perde tempo precioso que poderia ser gasto em projeto programático, articulação institucional e renovação de quadros. O vácuo é político, perde-se eleitor moderado, perde-se capacidade de formar maiorias legislativas, perde-se relevância nas grandes pautas do país.

Há, porém, sinais de que o campo conservador mais amplo enxerga os riscos. Segmentos que antes fechavam fileiras agora questionam estratégias de confronto permanente e preferem discutir a construção de alternativas eleitorais competitivas em 2026. Essa busca por pragmatismo é a única estrada plausível para a recomposição, se vier acompanhada de autocritica e troca genuína de lideranças por quadros com mais habilidade parlamentar do que microrrevolucionária.

A implosão, entretanto, segue como cenário provável se a atual lógica prevalecer, radicalização interna, uso instrumental da mídia e incapacidade de traduzir indignação em políticas públicas factíveis. A fragmentação eleitoral que nasce dessa dinâmica favorece a consolidação de coalizões progressistas coordenadas, que se beneficiam tanto do desgaste quanto da agenda de oferta, educação, emprego, infraestrutura, que tem ressonância em diferentes classes sociais.

Do ponto de vista estratégico, o campo democrático tem vantagem decisiva se souber transformar o caos alheio em política ativa, sem cair em triunfalismo. Defender instituições, ampliar diálogo com setores empresariais e sindicais e apresentar soluções concretas, e não apenas retórica, é o antídoto mais eficaz contra a onda destrutiva que vem do outro lado. A política é, no fim, capacidade de arregimentar e resolver problemas; quem entrega só espetáculo perde o direito de falar em nome de governabilidade.

A recomposição da direita é possível, desde que passe por um banho de realismo e programa. Sem isso, seguirá a implodir-se em público, deixando um espaço que quem quiser governar com projetos terá o tempo e a responsabilidade de ocupar.

Nenhum comentário: