A estratégia política do governo pode seguir três frentes.
Primeiro, resposta técnica e jurídica junto a organismos multilaterais para
questionar a proporcionalidade das medidas. Segundo, ampliação de acordos
comerciais alternativos e estímulo a mercados emergentes para diminuir a
dependência dos EUA. Terceiro, comunicação pública que transforme o conflito em
narrativa positiva, o presidente Lula e o PT podem aparecer como guardiões dos
empregos e da soberania econômica, pressionando por apoio parlamentar e
mobilizando sindicatos e setores produtivos afetados.
Há riscos reais, perda de mercados, pressão sobre pequenas e
médias empresas e aumento do custo de insumos importados. Mas existem
oportunidades políticas de curto prazo. Ao liderar uma coalizão que una
empresários, trabalhadores e governadores em defesa de compensações e políticas
de incentivo, o governo pode converter uma crise externa em capital político
doméstico. Num cenário eleitoral cada gesto de defesa da economia pesa, e um
presidente visto como protetor do emprego tende a ganhar ressonância entre os
eleitores.
O jogo diplomático também oferece alternativas. A mesa de negociações bilateral pode resultar em concessões setoriais, mecanismos de compensação ou cronogramas de transição que minimizem o choque. A habilidade do Itamaraty e da equipe econômica em negociar tecnicamente, sem ceder à narrativa isolacionista, será decisiva.
No limite, as tarifas podem funcionar como catalisador,
obrigam o Brasil a acelerar diversificação de parceiros, incentivar produção
local de insumos críticos e ampliar acordos regionais. Se bem conduzido, o
episódio não precisa ficar registrado apenas como derrota; pode entrar na
narrativa do governo como prova de capacidade de reação e defesa dos interesses
nacionais, justamente o que o eleitorado mais valoriza em tempos de incerteza
econômica.
O desafio imediato é converter a urgência em medidas
concretas sem perder a compostura política. Para o Planalto, a oportunidade
está clara, transformar uma medida punitiva estrangeira em agenda de proteção
social e industrial que reverbere positivamente nas urnas.
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