Guerra ao Made in Brazil e a conta que pode sorrir para lula

Nas últimas 24 horas, o anúncio de tarifas de até 50% sobre uma lista de produtos brasileiros pelos Estados Unidos acendeu alarmes no comércio exterior e nas cadeias produtivas nacionais. O choque inicial, explosivo para exportadores e indústrias, traz, porém, uma janela política que o Governo Lula pode usar como alavanca, transformar pressão externa em narrativa de defesa soberana e progresso social.

Aumentos tarifários dessa magnitude não surgem no vácuo. Desde produtores de alimentos até fabricantes de bens de capital, empresas sentiram o impacto imediato nas cotações e no planejamento de embarques. Mas o desenrolar político é tão importante quanto o econômico. Em Brasília, o Palácio do Planalto tem agora um roteiro claro, reagir com firmeza técnica, conduzir negociação diplomática e, simultaneamente, consolidar apoio interno mostrando ação em defesa do emprego e da indústria nacional.

A estratégia política do governo pode seguir três frentes. Primeiro, resposta técnica e jurídica junto a organismos multilaterais para questionar a proporcionalidade das medidas. Segundo, ampliação de acordos comerciais alternativos e estímulo a mercados emergentes para diminuir a dependência dos EUA. Terceiro, comunicação pública que transforme o conflito em narrativa positiva, o presidente Lula e o PT podem aparecer como guardiões dos empregos e da soberania econômica, pressionando por apoio parlamentar e mobilizando sindicatos e setores produtivos afetados.

Há riscos reais, perda de mercados, pressão sobre pequenas e médias empresas e aumento do custo de insumos importados. Mas existem oportunidades políticas de curto prazo. Ao liderar uma coalizão que una empresários, trabalhadores e governadores em defesa de compensações e políticas de incentivo, o governo pode converter uma crise externa em capital político doméstico. Num cenário eleitoral cada gesto de defesa da economia pesa, e um presidente visto como protetor do emprego tende a ganhar ressonância entre os eleitores.

O jogo diplomático também oferece alternativas. A mesa de negociações bilateral pode resultar em concessões setoriais, mecanismos de compensação ou cronogramas de transição que minimizem o choque. A habilidade do Itamaraty e da equipe econômica em negociar tecnicamente, sem ceder à narrativa isolacionista, será decisiva.

No limite, as tarifas podem funcionar como catalisador, obrigam o Brasil a acelerar diversificação de parceiros, incentivar produção local de insumos críticos e ampliar acordos regionais. Se bem conduzido, o episódio não precisa ficar registrado apenas como derrota; pode entrar na narrativa do governo como prova de capacidade de reação e defesa dos interesses nacionais, justamente o que o eleitorado mais valoriza em tempos de incerteza econômica.

O desafio imediato é converter a urgência em medidas concretas sem perder a compostura política. Para o Planalto, a oportunidade está clara, transformar uma medida punitiva estrangeira em agenda de proteção social e industrial que reverbere positivamente nas urnas.

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