A promessa de isentar do Imposto de Renda quem ganha até R$ 5 mil por mês chegou como melodia eleitoral aos ouvidos de milhões, agora, no rastro das negociações acaloradas, pergunta-se quem paga a conta. Mais do que alívio fiscal imediato, a medida redesenha benefícios e perdas, do salário doméstico à conta pública, há vencedores claros, e um tabuleiro político que pode favorecer o governo no curto prazo.
Pensionistas e aposentados que hoje se aproximam do teto
proposto aparecem entre os beneficiados, mas de forma desigual, a composição
real do ganho depende de como as regras de isenção se articulam com deduções e
benefícios já existentes e se haverá revisão nas faixas concisas que hoje
beneficiam contribuintes com dependentes ou despesas médicas. Servidores
públicos com salários mais baixos terão ganho relativo, mas o efeito é menos
transformador para carreiras com ganhos totais maiores.
No campo tributário, a queda na arrecadação é o ponto de
maior disputa. Estimativas preliminares feitas por técnicos indicam redução
bilionária na receita federal anual; o valor exato depende de ajustes na tabela
e de eventuais compensações, como alterações de alíquotas superiores, revisão
de benefícios fiscais ou corte de despesas. Estados e municípios podem sentir
efeitos indiretos se a compensação não for clara, pressionando serviços que já
operam no limite.
Há vencedores indiretos também, setores orientados ao
consumo popular, varejo de pequeno porte, eletrodomésticos básicos e serviços
locais, tendem a observar aumento de vendas no curto prazo, o que pode refletir
em emprego e arrecadação via outros tributos. O mercado financeiro e analistas
fiscais, por sua vez, observam com cautela, perda de receita pode ser vista
como risco para metas fiscais, influenciando a confiança e a trajetória de
investimentos no Brasil.
Politicamente, a isenção é moeda de impacto imediato. Para o
Executivo, anunciar a medida em um momento de sensível disputa pela narrativa
pública tem potencial para reforçar a percepção de compromisso com a renda das
famílias, ampliando a base de apoio entre eleitores de baixa e média renda. No
Congresso, a articulação necessária para aprovar alterações na tabela expõe
acordos e trocas que definirão o alcance final da proposta.
A grande incógnita segue sendo o ajuste fiscal, sem
compensações claras, o benefício social pode endurecer pressões sobre programas
e investimentos públicos, impondo escolhas duras no horizonte das contas
públicas. Resta saber se o alívio no presente será traduzido em melhoria
estruturada de renda ou apenas em alívio temporário de caixa familiar.
Pergunta final, quem ganha mais, o contribuinte que recebe o
alívio imediato ou o Estado, que pode ver seu espaço fiscal reduzido? A
resposta dependerá das contrapartidas que Brasília escolher, cortes, impostos
novos ou uma aposta no crescimento econômico como compensação. Enquanto isso, a
promessa de R$ 5 mil virou pauta, calor e cálculo político, e segue
movimentando mesas, votos e planilhas nas próximas semanas.
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