A articulação começou semanas antes, com interlocuções discretas entre assessores econômicos brasileiros e equipes técnicas americanas. A pauta era prática, comércio, clima e regras para investimentos, mas o desenho foi montado politicamente para que o presidente brasileiro aparecesse como quem oferece estabilidade e cooperação, não quem suplica por favores. Resultado, a aproximação virou espaço para o Planalto reafirmar prioridades industriais e a defesa do emprego, enquanto constrói tração internacional para medidas de mitigação de eventuais medidas protecionistas.
No centro da trama esteve o diálogo com governadores e
empresários, alinhando mensagens para que a resposta brasileira fosse firme e
articulada. O PT, longe de um mero observador, atuou como coordenador dessa
frente social, garantindo que sindicatos e movimentos populares entrassem na
narrativa pública, não como vitimização, mas como instrumento de pressão
legítima por compensações e salvaguardas. Essa tática transformou tensão
diplomática em oportunidade doméstica, Lula fala aos mercados e às ruas ao
mesmo tempo.
Também houve jogo de cena, declarações calculadas,
vazamentos seletivos e encontros com atores multilaterais que ajudaram a
enquadrar qualquer ação americana como questão bilateral com risco de
repercussão global. Assim, o Brasil não só ganhou visibilidade, mas também
tempo para negociar tecnicamente medidas compensatórias, enquanto politicamente
se apresentava como ator responsável e propositivo.
O risco existe, decisões abruptas de parceiros podem
prejudicar exportadores em curto prazo, mas a estratégia é clara, converter
pressão externa em agenda de fortalecimento industrial e diversificação de
mercados. Na leitura do Palácio, essa postura reforça a imagem de Lula como
articulador capaz de proteger empregos e construir soluções pragmáticas, um
trunfo irrecusável em clima eleitoral.
O filme dos bastidores mostra, portanto, menos improviso e
mais costura política. Quem puxou o fio foi uma coalizão de diplomacia,
economia e movimentos sociais, comandada por um governo que aposta na gestão da
crise como palco para demonstrar competência. Se o fio não arrebentar, a cena
de Nova Iorque terá sido menos um acaso e mais o primeiro ato de uma nova fase
brasileira no mundo.
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