Num momento em que muitos esperavam diplomacia com meias palavras, o Brasil fez questão de levantar a voz. No discurso de abertura da 80ª Assembleia‑Geral da ONU, nesta terça‑feira (23), o presidente Luiz Inácio Lula da Silva entregou ao mundo uma linha clara, a defesa da soberania, crítica às políticas unilaterais e apelo ao multilateralismo com firmeza e pragmatismo político. A fala, afinada com o tom histórico do Partido dos Trabalhadores, não foi um gesto de confrontação vazia, mas uma tentativa calculada de reposicionar o país como interlocutor do Sul Global, e, simultaneamente, de responder às pressões econômicas vindas dos Estados Unidos.
Lula não se limitou a declamações. Em poucas passagens diretas, desconstruiu narrativas que vinham sendo usadas para isolar decisões brasileiras e colocou temas sensíveis, desde tarifas retaliatórias até medidas sobre tecnologia e comércio, sob a luz pública. Ao reivindicar respeito à soberania e igualdade entre nações, o presidente ofereceu não apenas crítica, mas alternativa, reformas nas instituições multilaterais e compromissos reais em defesa do desenvolvimento sustentável e da justiça climática.
O tom adotado foi deliberadamente positivo para aliados
domésticos e investidores externos, firmeza política com compromisso
pragmático. Lula disse que o Brasil não aceita chantagens econômicas, mas está
pronto para dialogar e cooperar em pé de igualdade. Essa combinação, denúncia
de práticas injustas com disposição para negociação, funciona como uma manobra
estratégica para diminuir a assimetria nas relações com Washington, sem abrir
mão da agenda social e ambiental interna que sustenta o pacto do PT com sua
base.
Nos bastidores da assembleia, a postura pública foi
acompanhada por encontros informais que sinalizaram uma busca por canais de
entendimento. O aperto de mão registrado nos corredores pode ser lido como
fotografia de um momento diplomático; o discurso, porém, é a peça que marca uma
intenção, o Brasil quer ser ouvido e quer contar, com autonomia, suas
prioridades. Para setores do agronegócio, a indústria e o mercado financeiro, a
mensagem foi clara, o país procura estabilidade institucional para manter
investimentos, mas não renegociará sua autonomia estratégica.
A fala também serviu para galvanizar a plateia doméstica. Em
linguagem que remete às campanhas históricas do PT, Lula misturou referências
ao combate às desigualdades com apelos por solidariedade internacional. Para o
eleitorado do partido, foi um aceno, liderança forte sem abandonar a agenda
social. Para a oposição, um sinal de que qualquer escalada diplomática terá
custo político interno.
Ao fim, o recado ecoou com simplicidade e dureza, o Brasil
quer respeito, parceria e justiça no palco global. Mais do que um discurso
contra os Estados Unidos, foi um movimento para redesenhar o papel brasileiro
no mundo, com voz própria, disposição para coalizões e a convicção de que
soberania e desenvolvimento podem caminhar juntos.
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