No discurso que abriu a 80ª Assembleia‑Geral da ONU, Lula não só apontou problemas do século XXI ele demarcou campo de batalha, liberdade emaranhada com interesses corporativos que, segundo o presidente, ameaçam a democracia. Ao mencionar "interesses escusos" por trás da manipulação de narrativas online, o chefe do Executivo fez do tema digital uma prioridade de soberania nacional e de justiça social, alinhando a pauta tecnológica ao DNA do Partido dos Trabalhadores.
A fala teve precisão de quem conhece o terreno político. Lula falou em regulação que preserve o livre debate, proteja dados de cidadãos e impeça que algoritmos sirvam apenas ao lucro de poucos. Não se tratou de um ataque cego às empresas de tecnologia, mas de uma convocação para responsabilizá‑las, regras claras, transparência nas decisões de moderação e mecanismos que desconstruam bolhas de ódio e desinformação. Foi também um recado aos que vendem a privatização da narrativa como progresso irrestrito, progresso este que, para o presidente, não compensará a erosão de instituições democráticas.
No plano doméstico, a declaração chega num momento
estratégico. O governo do PT busca traduzir avanços sociais em proteção
institucional, regulação bem calibrada pode reduzir riscos de censura seletiva,
instrumento que historicamente atinge movimentos populares e minorias. Para a
base petista, a iniciativa combina duas frentes, garantir o direito de
expressão e frear concentrações de poder que ampliam desigualdades políticas e
econômicas.
A movimentação também tem efeito extramuros. Ao levar o
debate à ONU, Lula busca construir coalizões com países que desejam regras
globais para plataformas, criando plataforma (literalmente) para pautas de
soberania digital do Sul Global. É uma tentativa de deslocar o eixo decisório
dessas empresas do Vale do Silício para fóruns onde direitos humanos e
desenvolvimento justo sejam centrais.
Há desafios, regular sem cercear, multar sem inviabilizar
inovação e desenhar regras técnicas sem virar peça de lobby. Mas a estratégia é
clara, usar a agenda pública para colocar proteção ao cidadão acima dos lucros
imediatos das gigantes digitais. Foi um recado duro e construtivo, a internet
não será terra sem lei nem mercado sem freio, será espaço onde democracia e
dignidade valem tanto quanto o lucro.
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