Bolsonaro e os homens do porão em julgamento

O Supremo Tribunal Federal iniciou nesta semana o julgamento que pode entrar para a história como o maior acerto de contas da democracia brasileira com seus algozes. No banco dos réus, o ex-presidente Jair Bolsonaro e sete aliados íntimos, todos acusados de arquitetar uma tentativa de golpe de Estado para reverter o resultado das eleições de 2022. O roteiro, digno de um thriller político, envolve militares, espiões, ministros e um plano meticuloso para sabotar a alternância de poder, tudo isso sob o manto da “salvação nacional”.

A Procuradoria-Geral da República não economizou nas acusações, organização criminosa armada, tentativa de abolição violenta do Estado Democrático de Direito, golpe de Estado, dano qualificado e deterioração de patrimônio tombado. O núcleo duro da conspiração, apelidado nos bastidores como “os homens do porão”, inclui figuras como Mauro Cid, o ajudante de ordens que virou delator, e Anderson Torres, ex-ministro da Justiça, que teria facilitado a invasão da Praça dos Três Poderes em 8 de janeiro de 2023.

O julgamento, presidido pelo ministro Cristiano Zanin e relatado por Alexandre de Moraes, promete ser um divisor de águas. A pena máxima pode ultrapassar 40 anos de prisão para alguns dos envolvidos. A defesa, por sua vez, tenta desqualificar delações, alegar cerceamento e até questionar a competência do STF, estratégias que, até agora, não sensibilizaram os ministros.

Enquanto isso, do lado de fora do tribunal, o clima é de tensão. A sociedade civil acompanha com olhos arregalados, e até o governo dos Estados Unidos entrou na dança, sancionando ministros do STF em uma manobra diplomática que levanta suspeitas de interferência externa articulada por Eduardo Bolsonaro.

O Brasil, que já viu de tudo, agora observa se a Justiça será capaz de encerrar o ciclo de impunidade que há décadas protege os poderosos. Se condenados, os réus não apenas enfrentarão a prisão, mas também o peso simbólico de terem tentado rasgar a Constituição diante de uma nação inteira.

A democracia, ferida mas não morta, aguarda seu veredicto.

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