O ministro Alexandre de Moraes autorizou que Jair Bolsonaro realizasse exames médicos dentro da Superintendência da Polícia Federal em Brasília, onde cumpre pena. A decisão, tomada em 12 de dezembro, permitiu que um médico particular levasse equipamentos para realizar ultrassonografias na região inguinal do ex-presidente. A defesa alegou urgência cirúrgica, mas a medida rapidamente se transformou em mais um espetáculo político, explorado pelo bolsonarismo como narrativa de perseguição e vitimização.
A insistência em transformar problemas de saúde em pauta pública não é nova. Desde que deixou o Planalto, Bolsonaro recorre a episódios médicos para manter-se em evidência, como se cada dor abdominal fosse um ato político. Agora, com a perícia da Polícia Federal marcada para avaliar a real necessidade da cirurgia, o jogo se repete e a saúde vira palanque, e a população é convocada a assistir a mais um capítulo de um drama que parece escrito sob medida para manter viva a chama da polarização.
Entre os críticos, ganha força a suspeita de que a famosa
facada de 2018, que o projetou como mártir da direita, não passa de uma
“fakeada”. A versão, ainda que jamais comprovada, circula com vigor porque o
episódio sempre foi cercado de contradições, laudos contestados e uma
exploração midiática sem precedentes. Para muitos, a atual encenação em torno
dos exames médicos é apenas a continuação de uma estratégia que começou naquele
atentado nebuloso, usado como combustível eleitoral e como escudo contra críticas.
Enquanto isso, aliados como Flávio Bolsonaro acusam Moraes
de “querer matar” o pai, numa retórica que beira o absurdo e reforça a
narrativa de perseguição. O senador ignora que o Supremo apenas determinou
perícia para verificar a real necessidade da cirurgia, algo que deveria ser
visto como prudência institucional. Mas no universo bolsonarista, qualquer ato
judicial vira munição para alimentar a ideia de que o líder é vítima de um
sistema cruel, quando na verdade se trata de um réu tentando manipular a opinião
pública.
No fim, o caso dos exames médicos expõe mais uma vez a
habilidade de Bolsonaro em transformar fragilidade em espetáculo. A saúde, que
deveria ser tratada com discrição, vira arma política. A cada novo laudo, a
cada nova autorização, o ex-presidente reforça sua imagem de perseguido,
enganando parte da população com a velha narrativa de mártir. O Brasil assiste,
incrédulo, a mais um capítulo de um roteiro repetitivo que é o corpo de
Bolsonaro como palco de manipulação eleitoral.

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