Esses números, trazidos pela fala do produtor, desenham uma
economia local cujo operário é a família rural. É dela que sai o leite, o
queijo e a circulação de renda nas pequenas cidades do interior.
A cadeia do leite sofre hoje com a ausência de políticas que
agreguem valor ao produto — faltam programas de apoio à industrialização local,
logística eficiente e acesso a mercados que tornem nosso queijo e leite
competitivos, enquanto produtores denunciam que linhas de crédito e incentivos
estão sendo direcionadas ao plantio de milho, cultura sazonal que não garante
renda contínua, a combinação desses fatores aumenta a informalidade e a
precariedade do trabalho rural e acelera o êxodo para a cidade, com famílias
inteiras deixando o campo por falta de alternativas sustentáveis.
Na avaliação do produtor ouvido, “mil tarefas de milho
empregam 5 pessoas em 60 dias. E uma queijaria que pega 5 mil litros emprega
100 pessoas o ano todo.” É a comparação entre trabalho sazonal e emprego
permanente que sustenta o argumento de que a política atual empobrece o Sertão.
A transformação produtiva tem consequência imediata sobre
comunidades como, fechamento de comércios locais, redução de renda nas
cidades-polo, queda na autoestima coletiva e aceleração do êxodo rural.
Politicamente, o narrador registra uma tristeza com efeitos eleitorais.
O quadro, segundo o depoimento, também reflete um conflito
de prioridades, enquanto a retórica oficial se aproxima do agronegócio, a
produção familiar do leite pede políticas de garantia e permanência no campo.
O diagnóstico vem acompanhado de pedidos práticos como a
abertura de um grande debate público em que se discutam crédito direcionado à
cadeia do leite, programas de agregação de valor, incentivos à indústria local
e políticas que favoreçam a permanência da família no campo. “Venham criar um
grande debate”, conclama o produtor, buscando recuperar autoestima e mercado ao
produto local.
O relato é um espelho de tensões que atravessam o Brasil
rural com modernização versus sustentabilidade das economias familiares;
políticas que incentivam culturas de escala versus cadeias locais de produção;
decisões de crédito que redesenham territórios. Se as autoridades e
representantes estiverem dispostos a ouvir, há uma pauta concreta para ação
imediata, e uma chance de evitar que milhares de empregos e histórias de vida
sejam substituídos pela lógica da colheita de curto prazo.
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