Governo entrega o Sertão ao milho e paralisa o setor leiteiro

No Sertão sergipano, a cadeia produtiva do leite foi empurrada para a sombra enquanto o poder público mira no milho. Produtor rural, com rosto no sol e mãos no curral, resume assim a situação, Erivan, mas conhecido como “Nêngo da Auto Peças”, “confio no presidente, mas esse terceiro mandato foi uma tragédia para nossa renda”. É dessa tensão que nasce a reclamação que chega ao Blog Dimas Roque, o abandono, desemprego e êxodo rural num dos polos com maiores produtores de leite do país.

Na microrregião do Sertão, a cadeia produtiva do leite sustenta uma economia ampla e entranhada na vida das famílias rurais. Três a quatro indústrias locais processam cerca de 1,5 milhão de litros de leite, enquanto 245 queijarias complementam o processamento com mais 1,2 milhão de litros, formando um parque industrial regional relevante. Essas unidades industriais e as queijarias geram aproximadamente 3.000 empregos diretos, mas a força real do setor está nas propriedades. São cerca de 8.000 produtores e aproximadamente 25.000 pessoas cuja rotina começa diariamente no curral para garantir o leite que alimenta a indústria. No conjunto, a pecuária leiteira do Sertão responde por uma estimativa de 30.000 postos de trabalho, mostrando que esses números não são apenas estatísticas, mas a base de uma economia em que o operário é a família rural, de onde saem o leite, o queijo e a circulação de renda nas pequenas cidades do interior.

Esses números, trazidos pela fala do produtor, desenham uma economia local cujo operário é a família rural. É dela que sai o leite, o queijo e a circulação de renda nas pequenas cidades do interior.

A cadeia do leite sofre hoje com a ausência de políticas que agreguem valor ao produto — faltam programas de apoio à industrialização local, logística eficiente e acesso a mercados que tornem nosso queijo e leite competitivos, enquanto produtores denunciam que linhas de crédito e incentivos estão sendo direcionadas ao plantio de milho, cultura sazonal que não garante renda contínua, a combinação desses fatores aumenta a informalidade e a precariedade do trabalho rural e acelera o êxodo para a cidade, com famílias inteiras deixando o campo por falta de alternativas sustentáveis.

Na avaliação do produtor ouvido, “mil tarefas de milho empregam 5 pessoas em 60 dias. E uma queijaria que pega 5 mil litros emprega 100 pessoas o ano todo.” É a comparação entre trabalho sazonal e emprego permanente que sustenta o argumento de que a política atual empobrece o Sertão.

A transformação produtiva tem consequência imediata sobre comunidades como, fechamento de comércios locais, redução de renda nas cidades-polo, queda na autoestima coletiva e aceleração do êxodo rural. Politicamente, o narrador registra uma tristeza com efeitos eleitorais.

O quadro, segundo o depoimento, também reflete um conflito de prioridades, enquanto a retórica oficial se aproxima do agronegócio, a produção familiar do leite pede políticas de garantia e permanência no campo.

O diagnóstico vem acompanhado de pedidos práticos como a abertura de um grande debate público em que se discutam crédito direcionado à cadeia do leite, programas de agregação de valor, incentivos à indústria local e políticas que favoreçam a permanência da família no campo. “Venham criar um grande debate”, conclama o produtor, buscando recuperar autoestima e mercado ao produto local.

O relato é um espelho de tensões que atravessam o Brasil rural com modernização versus sustentabilidade das economias familiares; políticas que incentivam culturas de escala versus cadeias locais de produção; decisões de crédito que redesenham territórios. Se as autoridades e representantes estiverem dispostos a ouvir, há uma pauta concreta para ação imediata, e uma chance de evitar que milhares de empregos e histórias de vida sejam substituídos pela lógica da colheita de curto prazo.

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