Padre mexe com a fé, cutuca Gil e acaba na berlinda da Justiça

O choque entre religião e política ganhou novos contornos nesta semana. O padre Danilo César, pároco da Paróquia de São José, em Areial (PB), virou alvo de um processo movido pela família do cantor Gilberto Gil após debochar publicamente de orações feitas pelo músico em favor da filha, a cantora Preta Gil, falecida em julho deste ano.

Durante uma homilia transmitida ao vivo, o religioso ironizou a fé do artista baiano e desdenhou das orações dirigidas aos orixás, prática ligada às religiões de matriz africana. A fala repercutiu de forma explosiva nas redes sociais e foi classificada por especialistas como um caso de intolerância religiosa. A família Gil protocolou ação na Justiça do Rio de Janeiro pedindo indenização de R$ 370 mil por danos morais, além de responsabilização por incitação ao racismo religioso.

O episódio reacende o debate sobre os limites da liberdade de expressão no púlpito e a responsabilidade de líderes religiosos em um país marcado pela diversidade de crenças. Para movimentos sociais e entidades ligadas à defesa da liberdade religiosa, a fala do padre não foi apenas uma opinião, mas um ataque direto a tradições que historicamente sofrem perseguição.

Gilberto Gil, que sempre defendeu o diálogo entre culturas e religiões, reagiu com firmeza. Em nota, sua defesa afirmou que “a fé não pode ser usada como arma de exclusão” e que o processo busca não apenas reparação financeira, mas também um gesto simbólico contra a intolerância.

Enquanto isso, setores conservadores tentam relativizar o episódio, alegando que o padre exerceu seu direito de crítica. Mas a repercussão mostra que o caso ultrapassou os limites da paróquia e se transformou em um embate nacional entre fé, política e direitos humanos.

Na Bahia, onde a herança africana é parte indissociável da identidade cultural, o episódio ganhou ainda mais peso. Líderes religiosos e políticos locais destacaram que a fala de Danilo César fere não apenas a memória de Preta Gil, mas também a dignidade de milhões de brasileiros que professam religiões de matriz africana.

O processo segue em tramitação, mas o recado já foi dado para quem debocha da fé alheia pode acabar no banco dos réus.

Nenhum comentário: