Lira perde a caneta de ouro e vê aliados fugirem do banquete do poder

O reinado de Arthur Lira (PP-AL) na Câmara dos Deputados, que parecia inabalável durante quatro anos de presidência, começa a dar sinais claros de desgaste. Fora do comando da Casa desde fevereiro de 2025, quando passou o bastão para Hugo Motta (Republicanos-PB), Lira já não dita mais o ritmo das votações nem controla com a mesma firmeza a tropa do Centrão. A perda de espaço ficou ainda mais evidente após a recente derrota do bloco na votação da Medida Provisória que tratava da substituição do aumento do IOF, quando o governo Lula conseguiu articular uma reação e, em seguida, exonerou indicados de partidos do Centrão em cargos estratégicos como Caixa, Codevasf, Iphan e Dnit, preservando apenas alguns nomes ligados diretamente a Lira.

A movimentação do Planalto foi interpretada como um recado direto para quem não estiver alinhado com o governo não terá espaço na máquina pública. O gesto atingiu em cheio a base de sustentação de Lira, que sempre se apoiou na distribuição de cargos e verbas para manter coesão. Sem a presidência da Câmara e com a tesoura do Executivo cortando indicações, o deputado alagoano vê sua influência minguar.

O próprio discurso de despedida de Lira, em fevereiro, já revelava um tom melancólico. Ao exaltar seu “legado” e apoiar a eleição de Motta, ele tentava mostrar força, mas nos bastidores a avaliação era de que sua capacidade de articulação havia se esgotado. Desde então, a bancada do Centrão tem se fragmentado, com líderes regionais buscando aproximação direta com o Palácio do Planalto, reduzindo a dependência da figura de Lira.

O Centrão, que durante anos foi sinônimo de governabilidade e barganha, hoje enfrenta um dilema por estar sem o comando centralizado de Lira, o bloco perde a aura de “dono do Congresso” e se vê obrigado a negociar em condições menos vantajosas. Deputados que antes seguiam a cartilha do ex-presidente da Câmara agora se movimentam de forma autônoma, atentos às eleições de 2026 e às pressões locais.

A fotografia atual mostra um Arthur Lira enfraquecido, tentando preservar relevância em um cenário em que o governo federal aprendeu a jogar com as mesmas armas que o consagraram, os cargos, as verbas e articulação política. A pergunta que ecoa em Brasília é se o Centrão ainda manda no Brasil ou se, sem seu comandante mais habilidoso, virou apenas um amontoado de interesses regionais à deriva.

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