Ameaça, acordos e o preço da blindagem para Tarcísio

A fala do governador Tarcísio de Freitas nesta semana, condicionando uma eventual candidatura à Presidência à promessa de “blindagem” para interesses bilionários, abriu fissuras e acendeu um debate direto sobre prioridades políticas no país. Mais do que uma declaração de ambição pessoal, o recado exposto escancarou um choque de projetos, de um lado, a lógica de proteção a grandes capitais, do outro, a defesa do interesse público que o Presidente Lula e o Partido dos Trabalhadores afirmam representar.

No Planalto e entre lideranças petistas a leitura foi imediata e dura. A proposta de Tarcísio não é apenas um gesto de barganha eleitoral, é um convite explícito ao país para escolher quem será protegido pelo Estado. O PT posicionouse de forma unívoca contra a ideia de blindagem dos bilionários, defendendo que a candidatura e as alianças não podem passar pela preservação de privilégios que corroem a arrecadação e a capacidade do Estado de financiar saúde, educação e políticas sociais. Parlamentares do partido votaram nas últimas deliberações e manifestações legislativas em bloco favoráveis às medidas que priorizam receita pública e fiscalização, e contrárias a qualquer agenda que tolha a transparência sobre grandes capitalistas.

Do outro lado do espectro, alas do Centrão e partidos que historicamente fazem acordos com setores empresariais, como PL, União Brasil e Republicanos, demonstraram simpatia ou, no mínimo, tolerância com a estratégia de Tarcísio, ao verem na blindagem um instrumento de estabilidade para atores econômicos que financiam campanhas e ocupam espaços decisórios. Esses grupos, em votações recentes sobre matérias fiscais e regulatórias, sustentaram posicionamentos que o PT classifica como de proteção a interesses privados em detrimento do interesse público.

O efeito prático dessa disputa é claro, a política brasileira volta a ser palco de choques entre reconstrução social e manutenção de privilégios. No discurso oficial, Lula respondeu com firmeza, reafirmando que governo e base parlamentar não negociarão cortes em políticas públicas nem renunciarão à cobrança justa sobre grandes fortunas e mecanismos que garantam transparência fiscal. Para o PT, a história deve ser outra, e as urnas, o espaço para decidir se o país prefere proteger elites ou ampliar direitos.

A manobra de Tarcísio também funciona como termômetro político. Se conseguir costurar apoio no Centrão, sinaliza uma direita capaz de se recompor em torno de um candidato que promete segurança aos poderosos, se fracassar, expõe a fragilidade de uma estratégia baseada em interesses econômicos fechados. Para o governo Lula, a oportunidade está posta, transformar a denúncia em narrativa, mostrar que blindagem para bilionários significa menos recursos para o povo, e converter a reação em uma frente política que una partidos, movimentos sociais e opinião pública em defesa de um projeto de país que priorize inclusão sobre privilégio.

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