As prisões, as operações e as novas linhas de investigação que pipocaram em São Paulo nas últimas semanas criaram uma sensação política tão forte que, nas ruas e nas redes, uma pergunta simples e carregada de medo virou mantra, “quem governa o estado?” A resposta oficial é simples, a percepção pública, nem tanto.
No campo político, a oposição e parcela da opinião pública
exigem respostas claras ao Executivo estadual, como falhas de fiscalização, lacunas
na inteligência e lentidão em controles administrativos permitiram a
persistência de estruturas suspeitas? Parlamentares cobraram explicações em
plenário, enquanto movimentos civis pediram abertura de comissões e maior
transparência nas ações de segurança. A sequência de reportagens e operações
elevou o tom das críticas e alimentou a narrativa de que o conflito entre crime
organizado e aparato público alcançou um patamar de crise administrativa.
Do Palácio, a resposta priorizou o apoio às investigações e
a promessa de reforço à integração entre forças policiais e órgãos de controle.
A secretaria de Segurança afirmou que coopera com Ministérios Públicos e
polícias Federal e Civil e anunciou reforço em unidades estratégicas.
Assessores do governo estadual destacam medidas emergenciais, ostensividade em
trechos críticos, revisão de protocolos prisionais e auditorias em contratos, e
afirmam que os casos são fruto de atuação repressiva em curso, não de colapso
administrativo.
Especialistas em segurança pública ouvidos por veículos de
comunicação fazem duas leituras. A primeira reconhece que a prisão de
integrantes e a desmontagem de frentes de atuação traz sinais de eficácia
policial, a segunda alerta que operações pontuais não substituem mudanças
estruturais como políticas de inteligência continuada, controle de
financiamentos, transparência em convênios e fortalecimento da corregedoria são
necessárias para reduzir a sensação de impunidade que alimenta narrativas
explosivas nas redes sociais.
No centro do debate está, enfim, a disputa sobre percepções.
Quando investigações expõem vínculos e facilitadores externos a cadeias e redes
de proteção, a narrativa que se instaura pode ser desproporcional, há diferença
entre a existência de uma organização criminosa atuante e a ideia de que ela
“administra o estado”. Ainda assim, para cidadãos e políticos, ambos os
cenários exigem resposta, clareza nos resultados investigativos, medidas
administrativas que restabeleçam confiança e um cronograma público de ações
para evitar que o vácuo institucional seja preenchido pela suspeita.
A crise em curso, mais do que provar colapso ou
estabilidade, colocou o governo sob pressão de prestígio e capacidade de
reação. Daqui para frente, o teste será prático, transformar prisões e
apreensões em reformas administrativas que impeçam o reaparecimento de redes e
devolver à população a convicção de que as instituições estaduais retomaram o
controle. Quem governa, no final, é medido tanto por ações repressivas quanto
por mudanças que endureçam as barreiras contra a influência criminosa, e por
isso a expectativa por respostas concretas segue alta.
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