Algo de muito podre na República do Brasil. (Por Miguel Rossetto)


Em Hamlet, Shakespeare fala de traições, covardia, medo, ganância, cobiça. Por um dever político, assisti ao depoimento de Palocci e, enojado, percebi que os personagens de Hamlet estão todos ali. 

O depoimento de Palocci é a repetição de uma farsa já montada pela Lava-Jato para o criminoso Leo Pinheiro. Leo Pinheiro faz um depoimento no qual inocenta Lula, é condenado a 30 anos de cadeia. Leo Pinheiro é estimulado a corrigir seu depoimento, com a promessa de redução de pena para três anos, caso lembre de condenar Lula. Leo Pinheiro corrige seu depoimento e, sem nenhuma prova, acusa Lula e tem mesmo sua pena reduzida. E é este depoimento, construído dessa maneira, a única base para a sentença contra Lula. Como numa refilmagem, em primeiro depoimento, Palocci não envolve ou acusa Lula. É condenado a 12 anos de cadeia. Palocci é aconselhado por aqueles mesmos agentes a modificar seu depoimento com a promessa de redução de pena. Palocci, rastejando, no segundo depoimento incrimina Lula. O faz sem nenhuma prova, sem foto, sem gravação, sem áudio, assumidamente esperando o prêmio da delação. E assim, os depoimentos que acusam Lula são transmitidos amplamente e editados nas suas “melhores” partes.

Não considero Palocci um traidor, sem-vergonha, canalha porque revelou fatos que incriminam Lula, porque estes não existem e não há provas. Na farsa, a traição é de outra natureza, e dupla. Palocci trai o valor da confiança de Lula, por anos construída na luta política. E os agentes do MPF e do Judiciário, que tem o dever de proteger a República, a traem, ao montar farsas e premiar mentiras. 

Aliás, aqui se revela o verdadeiro pacto de sangue. O pacto das elites reacionárias contra os direitos do povo, contra a democracia e contra uma verdadeira República. É preciso ter coragem, acreditar e lutar pela verdade.

Por Miguel Rossetto.

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