Incômoda passividade. (Tiago A. Fonseca Nunes)


Manifestações, panelas, ruas, crise e nada substancial. O Brasil segue imerso no mar de desconfiança generalizado. Mesmo que alguns resistam em concordar, independente da “ideologia” A ou B, o caminho é tortuoso e o futuro ainda mais incerto. É notório que vivemos uma diáspora política, onde pouco se discute os rumos do país, mantêm-se aberta as chagas do subdesenvolvimento, da educação precária, da saúde sucateada, da segurança ineficiente e acesa a chama da corrupção.

Abro um parêntese para refletirmos sobre uma passagem da história contemporânea. Em 1962, Nelson Mandela foi preso e lá ficou por exatos 27 anos. Numa atitude de desprendimento (no sentido mais puro da palavra, sem contrapartidas escusas) conseguiu unificar a África do Sul se tornando presidente da república encabeçando um projeto pragmático em prol da população. Mesmo diante de tantos problemas sociais e culturais, optou em dar vazão ao essencial para os rumos do país, independentemente de ideologias partidárias.

Portanto, ao projetarmos essa passagem ao Brasil, percebemos que os agentes políticos daqui não estão interessados em discutir o país, no que de fato é necessário ser feito para superarmos a conjuntura atual. Muito pelo contrário, insistem em dar passos condicionados a amarras do toma lá da cá tangenciando completamente as reais pautas da nação, que é tão heterogênea e carente como a nossa. Não saem da superficialidade de propostas e ideais, alimentam uma falsa agenda partidária, personificações são feitas para gerar o fisiologismo e, assim, os interesses gerais de Estado são negligenciados. Assistimos a esses gestores públicos recorrendo a cenas e encenações diariamente mantendo o fingimento teatral à grande parcela da população que ainda não despertou sua revolta.

Vamos cruzar os braços e ficarmos fadados ao fiasco moral? Os valores apreendidos provenientes da operação lava-jato estão na ordem de bilhões. Todo esse montante (mesmo que aos nossos olhos possam representar pequeno percentual da real sangria do dinheiro público) se empenhado em áreas estratégicas poderiam minimizar consideravelmente as mazelas que a sociedade brasileira se depara. Falar dos problemas na saúde e educação parece chavão, mas infelizmente o brasileiro vive à margem de serviços dignos que justifiquem, por exemplo, a alta carga tributária paga todos os dias e, o pior, que vê a corrupção inerente ao sistema da politicagem.

Desse modo, precisamos ser enfáticos em recriminar o corporativismo político que tem a pretensão de cercear as ações da justiça, encobrir seus desvios de conduta e jogar a opinião pública contra aqueles que tentam brilhantemente apresentar à população as bananas pobres da política brasileira. Por isso, continuemos sempre inconformados e dispostos a realinhar os trilhos por onde passa o vagão do Brasil, sedimentando-os com ética, respeito e moral.


Por Tiago A. Fonseca Nunes.

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