A criação do Partido dos Trabalhadores em Paulo Afonso/BA

Os anos 80 foram de muita mobilização política no meio estudantil por todo o Brasil, mas foram os trabalhadores do ABC, no Estado de São Paulo, que fizeram história no Brasil. Foram as greves no final dos anos 70 que fizeram o país literalmente chacoalhar. O Brasil estava em plena ditadura militar, que foi implantada em 1964 e que este ano, no dia 1º de abril, completa 60 anos desde a data trágica que jogou a sociedade na escuridão dos porões e das torturas.

Mas as greves do ABC tiveram resultados muito positivos para o Brasil. Um deles foi a fundação do Partido dos Trabalhadores, que aconteceu no dia 10 de fevereiro de 1980 na cidade de São Paulo. O local foi o Colégio Sion. Estiveram presentes líderes sindicais, estudantes, professores e intelectuais que comungavam com a ideia de criação de uma legenda que defendesse os seus direitos.

A partir daquela data, o PT começou a abrir Sedes Provisórias e Diretórios Estaduais e Municipais por todo o país. Em 1981, após vários debates, um grupo de estudantes, professores e trabalhadores da Chesf – Companhia Hidroelétrica do São Francisco em Paulo Afonso, na Bahia, decidiram criar o partido na cidade. Tinha chegado a hora de mobilizar a sociedade por dentro das instituições.

Eu e o amigo Ivaldo Brito, então professor do CIEPA – Centro Integrado de Educação de Paulo Afonso, fomos até Salvador/BA para buscar as primeiras fichas de filiação da legenda. Foram mais de doze horas de ônibus em uma estrada de terra até chegarmos ao destino. Na capital fomos recebidos por Jorge “Macarrão”, que era o presidente da legenda no estado. O local ficava em um prédio na cidade baixa. A sala não tinha mais do que três metros de frente por uns quatro de fundo e era dividida por um tapume de madeira que ia só até o meio da altura da sala. Tinham pacotes de fichas de filiação por todos os lados. Tinham também outros tantos com panfletos, cartazes e jornais que traziam a história da luta para a construção daquele que é hoje o maior partido político das Américas.

De volta a Paulo Afonso, nós precisávamos fazer as filiações para dar seguimento à construção do partido na cidade. Na hora do preenchimento da primeira filiação, eu, claro, gostaria de ser essa pessoa. Mas na verdade decidimos pelo companheiro Alberto Araujo, agricultor e morador do Povoado Juá. Foi uma forma de reconhecimento por sua luta e também pela idade. Idade é patrimônio adquirido em qualquer lugar do mundo. E foi um prazer ter participado dessa homenagem. Hoje tenho o orgulho de dizer que a minha ficha de filiação no Partido dos Trabalhadores foi a 02.

Mas antes é bom contar uma outra coisa a você, caro(a) leitor(a). O grupo que era liderado pelo companheiro Zé Ivaldo à época era militante do PCB – Partido Comunista Brasileiro. Nós tínhamos uma célula, que mesmo na clandestinidade, funcionava muito bem aqui em Paulo Afonso. Tanto que o grupo chegou à prefeitura em 1985 ao eleger Zé para prefeito da cidade.

Pois o fato é o seguinte. Ainda em plena ditadura, aquele grupo de comunistas resolveu ajudar na construção do PT local. E assim foi feito. A célula do PCB em sua grande maioria se filiou ao partido. E após estes 43 anos da criação da primeira comissão provisória em Paulo Afonso, eu ainda milito na legenda até hoje. E tenho o orgulho de dizer que “no Brasil quem defende você é o PT”.

*Foto: Lula no 1º de maio de 1981. (Socorro Araujo, Lazaro Bilac, Lula e Leão. Atrás : Vává e Dimas Roque)

Dimas Roque.