A máquina do tempo


 

Tenho saudades do tempo de juventude quando saímos pelas ruas da cidade aqui no interior da Bahia, eu e um magote de amigos e amigas a perambular pelas ruas da cidade. Era tempo que a pressa não existia, o medo com o ex-amigo e agora, inimigo político, se quer se pensava. Vivíamos todos em harmonia. O máximo dos problemas, era levar uma carreira dos guardas da Chesf – Companhia Hidrelétrica do São Francisco, quando a cidade ainda era dividida por um muro.

Estes eram tempos bons, que parecem que ficaram para trás e estão encalacrados na memória que teima, vez ou outra, parecer cristalizar.

Ainda lembro do dia que fomos ver o filme Hair lá no cinema que existia no COPA – Clube Operário de Paulo Afonso. Eu, com o cabelo batendo na cintura, camisa com uma só manga, calça colorida com flores e sandália “lap, lap”. Também conhecida em outras bandas por “priquitinha”. Na fila, com amigos e amigas, parecíamos ser seres de outro planeta. Os olhares das pessoas eram, no mínimo de menosprezo. E nós, “nem aí para eles”. Tínhamos lido, ouvido muito sobre a história que iríamos ver. A expectativa era muito grande e quando aquele ônibus parte com Claude Hooper Bukowski, saindo daquela estrada de terra do interior americano, o sentimento de que era a nossa vida sendo contada ali. Depois de “Aquarius”, “Let The Sunshine In”, “I'm Black/ain't Got No” e “3-5-0-0”, saímos impactados positivamente daquela sessão. Que se registre. Ao final, aqueles olhares, antes esnobes, agora era de condescendência. Acho até que aquele pessoal saiu ainda mais liberto de seus preconceitos que nós que agora os víamos livres de suas amarras sociais.

O tempo passou e estamos nós aqui, de iPhone nas mãos, Samsung de última geração, como se paridos feito ratos a cada mês. Inventam “tecnologias” através do marketing e vamos nós, consumindo ávidos para estarmos “na moda’ e não ficarmos para trás.

Por falar em retornar, já está na hora de alguém criar a Máquina do Tempo. E olha como seria legal. O tempo a ser voltado não poderia compreender o da existência pessoal de cada um. Isto para que não se pudesse interferir tanto que bagunçasse o mundo mais do que já está. Daria para encontrar novamente os amigos da infância, brincar de “rouba bandeira”, “esconde-esconde” com a vizinha que eu era doido por ela e ela nem aí para mim. Poderíamos errar menos, pois já saberíamos aquilo que devíamos acertar. Namorar só a quem nos amou e não magoar a quem magoamos. Dizer muito mais a nossos pais “eu te amo” para sofrer menos quando de suas partidas. “Gazear” menos aulas para não ter que ficar em recuperação em matemática anos seguidos. Sentar no sofá e receber o cafuné de nossas mães.

Desde quando Herbert George Wells, escritor britânico, escreveu o livro A Máquina do Tempo, em 1895, que no imaginário popular há o desejo de realizar esta fantasia. E a criança que há em mim, ainda deseja ver esse sonho se tornar realidade. Todo o tempo, é tempo de sonhar.

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