Tiririca e o Conto do Palhaço.

Tiririca mal consegue balbuciar em seu discurso único na Câmara (ele anunciou que não será candidato à reeleição), mas de bobo não tem nada. Está se utilizando da tática do bode na sala para tentar sair por cima. Na seguinte linha: "Eu sou um deputado medíocre e fui pego no flagra com um desviozinho menor, mas vejam como tem gente pior que eu, com ficha corrida".

A aventura desse anti-herói macunaímico (com preguiça para apresentar projetos e fazer discursos, mas não para ficar papeando no fundão do plenário com aqueles que desviam verbas da saúde) deveria servir para mostrar à população que de nada adianta eleger aventureiros com cartas de boas intenções e imagem conveniente de "pessoa pura".

Mas não. Estão caindo conto do vigário. Digo, no conto do palhaço.

Em primeiro lugar porque a maior parte dos políticos que se apresenta com esse perfil "independente" é apenas oportunista. Não consta que Tiririca tenha rasgado os contracheques e benesses. Não consta que tenha apresentado projetos distribuidores de renda. E, sim, consta, aí sim, que ele se aproveitou de verbas públicas para viajar por aí como palhaço.

Em segundo lugar porque o sistema político brasileiro - e eleitoral - está muito acima desses supostos gritos e espasmos de independência. Aliás, o sistema se alimenta desses próprios simulacros. Eles funcionam para dar uma ideia de democracia real, de oportunidade para todos, quando, a rigor, a democracia representativa está dominada pela plutocracia política.

Tiririca existe (esse arremedo de Tiririca que é o Tiririca político) porque existem os Waldemar Costa Neto, o presidente do PR que lançou o palhaço como político porque esse partido pouco republicano queria aumentar sua bancada (e seu fundo partidário) e não viu problema nenhum em eleger alguns "liberais" com o voto do humorista. Tiririca multiplica aqueles que Tiririca critica.

Tiririca, o Político, não é o Tiririca original. É um títere, um boneco, um cavalinho do Fantástico com os dentes arreganhados. Uma Waldemarionete descartável. Usaram, jogaram fora. Com ganhos para ambas as partes. Pois a partir de 2019 ele deverá curtir sua aposentadoria da Câmara. (Ou, caso tenha a dignidade aparente de renunciar a ela, continuará capitalizando a exposição midiática em seus shows.)

Ele quer nos fazer crer que não havia nenhum problema em se aliar a Waldemar, aos Waldemares de lama. Em pedalar politicamente com golpistas, em votar contra a previdência e a favor do congelamento dos gastos da saúde (olhem ela aqui de novo, a saúde) e da educação. Quando, sim, tudo pode ficar pior do que fica. Ficou, Tiririca, com sua assinatura - com seu nome, com sua hipócrita "dignidade".

E nada disso é uma piada. O nome exato dessa tiriricada e desse tiririquismo atende por escárnio. E não que esse deputado medíocre e balbuciante seja o pior da laia. Apenas se prestou a camuflar de bom mocismo o truque pilantra, a suposta tentativa de moralizar o imoral - como se a renovação da política nacional dependesse de supostos bons moços, de legiões de Tiriricas.

E não de construção diária de alternativas nas ruas e nas periferias, nas comunidades de base, com projetos baseados em décadas (em séculos) de debates sérios, feitos por gente realmente séria, e não enganadores que querem emprestar tom de seriedade a alguns momentos de pausa na coleção de piadas. A mudança não ocorrerá a partir de risos e balbucios. Ela virá do desprezo.

Há quem ache que a política nacional continuará indo de mal a pior (essa política capturada pelo poder econômico mais jeca do planeta) apesar de Tiririca. Mas não. Ela seguirá guiando nosso cadafalso justamente porque gente como Tiririca engana a população, passando-se por "gente do povo", "incólume", "que se preocupa com a saúde" e "cumprimenta o pessoal da limpeza da Câmara". 

para fazer esse povo espoliado e enganado acreditar que mais gente com essas qualidades calculadas possa emergir do Pântano da Desigualdade rumo a um país mais justo. (E menos corrupto etc.)

Não, nada emergirá desse sorrisinho cínico do palhaço, nada emergirá dessa farsa e desses farsantes.

Muito menos dos colegas engravatados que estão rindo desses oito anos de falsa pantomina.
Nada emergirá dessa falta de glória, desses inglórios palhaços.

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