Sente-se, com o perdão dos lusitanos, um certo jeitão de “agente secreto português” nesta história deste anjo de candura da senhora Monica Moura, mulher do ex-marqueteiro João Santana.
Esta história de “deixar os e-mails como rascunho” para que eles “não circulassem na rede” é de doer.
Será que gente tão atilada em comunicação, digital inclusive, acha que o texto ia de um computador para outro, a milhares de quilômetros de distância, “sem passar pela rede”?
Ia como, voando? De táxi? De Uber, para ficar mais “moderninho”?
Ora, “se me faz favoire” qualquer imbecil sabe que para aparecer em outro computador remoto, claro que um texto tem de andar pela internet. E que tudo o que anda pela internet tem endereço, internet protocol, o famoso IP.
Mas suponha que eu queira montar uma operação clandestina, com codinomes e truques para evitar rastreamento. Vou usar a rede de internet do Planalto, com tanto hot spot e internet pública por aí? Vou fazer isso no meu computador pessoal, com tanta porcaria de 800 reais à disposição para montar isso?
Vou usar meu ano de nascimento como senha? Ah, para. Número para não esquecer tem aos montes: 13051888, dia da Abolição, hoje, 31031964 ou 01041964, dia do penúltimo golpe, o de 1964, tiririca2018. O nome da mulher do Costa e Silva, que mimo! Quem sabe não fosse melhor uma homenagem ao casal: bonnie&clyde, que tal? Mas não, foi usada a data 2606, 26 de junho, a data da morte do soldado Mario Kozel Filho, pela VAR Palmares(!!!!)
Sabidíssima a D. Monica, porque, segundo O Globo, foi ela quem ” criou ali mesmo, no computador da presidente (notebook), na biblioteca do Palácio da Alvorada, um e-mail do Google (Gmail), com nome e dados fictícios, cuja senha era de conhecimento de Mônica Moura, da presidente Dilma e de seu assessor Giles Azevedo, que acompanhou essa parte da conversa (criação do e-mail)”.
Agora, o pior. Se eu estou de má fé, vazando informações sigilosas de Justiça, para pessoas que todo mundo sabia estavam para ou ser presas ou vou fazer isso pessoalmente ou por interpostas pessoas que participem do arranjo? Porque não pediu a Giles, que, diz Monica, sabia de tudo, e-mail e senha?
O suprassumo da história é o fato de a conta e o rascunho continuar por lá.
Porque Santana e Monica tiveram sua prisão divulgada em 22 de fevereiro de 2016, quando se encontravam no exterior. A primeira providência, a qual estavam livres para tomar de qualquer lugar do mundo era apagar os rascunhos, não é? Basta mandar para a lixeira, abri-la e mandar “excluir definitivamente”. Nos próprios servidores do Gmail, daí a algum tempo (e não muito) elas serão completamente apagadas, porque eles têm muita memória, mas não o suficiente para guardar todos os e-mail enviados e recebidos por seus 1 bilhão de usuários.
Mas, ao contrário, o que a imagem que Monica registrou em cartório mostra a data da criação do tal e-mail como 22 de fevereiro. Justo o dia em que se publicou, por volta de 6 horas da manhã (cinco, na República Dominicana, onde estavam João e Monica) o que indica que, muito provavelmente, o tal rascunho foi feito quando já se tinha notícia da prisão.
Aliás, segundo a ata notarial apresentada por Moura, nada mais havia ali, rascunho ou mensagem, apenas esta e várias mensagens do Google de que a senha teria sido alterada.
Francamente, as alegações são do tipo “incrível, fantástico, extraordinário” programa que o Almirante apresentava no rádio, há mais de 50 anos. Todinho escrito sobre “histórias do outro mundo”, mas que deixavam muita gente incauta com medo.
Por Fernando Brito.
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