Uma frase atribuída ao principal assessor de Bill Clinton, o marqueteiro James Carville, virou uma espécie de mantra para os sucessos políticos mundo a fora. Ao ser perguntado por curiosos sobre qual o motivo teria levado Clinton a uma consagradora vitória contra o Bush Pai, com uma presidencia razoavelmente popular... ele disse: Foi a economia, idiota!
Assim fica mais ou menos convencionado que o sucesso da economia é fundamental para os projetos de continuidade política seja em qualquer sociedade. Se há emprego, crescimento econômico, e níveis de elevação da renda do povo, está garantido o sucesso da permanecia do grupo político responsável no governo.
Mas parodiando o assessor do Clinton, poderíamos responder aos curiosos sobre o porque a direita brasileira foi tão obtusa e radical ao dar o golpe contra o governo petista e nosso projeto de poder. E como consegui fazer isso contra um grupo político que tantos benefícios causou ao país.
Como conseguiu que um partido que sob a liderança de Lula tirou 40 milhões de brasileiros da miséria; entregou 7 milhões de casas para brasileiros sem teto; colocou negros e pobres na universidade; garantiu médicos, em maioria Cubanos, para mais de 50 milhões de pessoas; construiu mais universidades e escolas técnicas públicas do que os 200 anos anteriores de história; etc... fosse enxotado do poder sem uma reação à altura?
Primeiro devemos obviamente concordar com o assessor de Clinton. O golpe foi dado por diversos motivos, mas o desastre do programa econômico errático da presidenta Dilma, ao chamar Joaquim Levi e os banqueiros para comandar um "ajuste fiscal" para enfrentar a crise de financiamento do Estado Brasileiro, causando desemprego e afetando as camadas mais pobres que são a base social do lulismo/novo petismo foi a condição objetiva do golpismo. Portanto, foi a economia, idiota!
Mas a raiz de todos os problemas. A que levou o golpe contra a Dilma. A que, antes, tinha levado a invenção do "mensalão" e a condenação de Ze Dirceu, Genoíno e Delubio; e que agora levou a condenação do Presidente Lula; foi a displicência com que tratamos a disputa concreta da sociedade. Ou melhor, à luta de classes.
Primeiro tratamos o Estado como se fosse uma tal "republica neutra" como na filosofia de Aristóteles. A república patrocinadora de uma democracia celestial, santificada, livre de interesses outros que não o bem público e a fruição dos nobres sentimentos humanos. Doce ilusão! O Estado é com seus livros, códigos, bibliotecas, universidades, cursos de doutorado, concursos "públicos", delegacias, cadeias, tribunais, caveirões blindados, juizes, promotores e japoneses da federal, etc... a fortaleza da defesa de interesses reais e concretos de classe. Aliás, das classes econômica, social e politicamente dominantes!
O "pobretariado" do qual o lulismo e o PT são seus legítimos representantes pode até se apossar das "cascas" do Estado Burgues por algum tempo, como fizemos por 12 anos, quase 13. Mas suas entranhas continuam a serviço da classe dominante. E são o tanto mais quanto menos o "pobretariado" tem consciência disso e menos age pra diminuir o poder delas sobre o "SEU" Estado.
E como fazer? Claro que nomeando juizes, desembargadores, ministros de tribunais, criando cotas de negros e estudantes de escolas públicas para os tribunais, polícias, forças armadas e todas as carreiras de estado. Além de escolher personalidades historicamente comprometidas com as lutas populares para onde couber a presidência e os parlamentos escolheram.
Mas não é simples assim! Vontade tem também que estar lastreada na correlação de forças da sociedade. Para se ter maioria eleitoral e maioria no parlamento é preciso ter maioria social. E maioria social se obtém organizando, formando lideranças de base, politizando o povo, criando organismos de base em todos os locais de trabalho, estudo e moradia; criando instrumentos e grupos de difusão de informação e cultura.
Ou seja, organizar milhões na defesa de um projeto popular para o Brasil era uma prioridade que não realizamos, que esquecemos, que abandonamos. Fomos derrotados por isso! Se perguntarem, portanto porque os golpistas nos derrotaram? Interessante a reflexão que o sociólogo Domenico de Masi me fez quando discutirmos o porque do sucesso do golpe no Brasil, depois que relatei o que achava. Ele disse: - "pois é! Os trabalhadores podem até não saber que existe luta de classes, mas a burguesia nunca esquece!".
O que nos derrotou? Foi a luta de classes, idiota!
Washington Quaquá é presidente estadual do PT RJ e foi prefeito de Maricá por 2 mandatos (8 anos).
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