O Brazil (SIC) da direita. (Por Claudio Guedes)

Eles insistem na tecla que o ódio foi gerado pela esquerda. Eles insistem na tecla que Lula e o PT criaram a atmosfera de ódio e rancor que vivemos hoje no Brasil.
Claro que para eles a história vivida não possui nenhum valor. Em 2003, quando pela primeira vez um partido de esquerda e com parte significativa dos seus dirigentes vindos do mundo do trabalho, assumiu o governo federal, o país viveu uma democracia plena, o respeito aos adversários batidos existiu (claro que pequenas rusgas e incidentes menores aconteceram, mas como parte marginal  do cenário real da política). 

De 2003 a 2013 ninguém de direita foi molestado nas ruas, em restaurantes, em livrarias e em aeroportos. Não vi, nem ouvi, nada parecido com isso - e ando e vôo, e muito, pelo país. 

Eles inventaram o ódio, os derrotados em 2010. Não aceitaram a derrota nas urnas. A derrota foi difícil de engolir. Um poste, uma anta, diziam eles de Dilma Roussef. Ainda que ela tivesse um longo curriculum de serviços públicos em cargos relevantes, de secretária de estado à ministra em pastas importantes.  A segunda derrota, em 2014, foi demais. Não aceitaram e partiram para a derrubada do governo constitucional, na farsa, na malandragem, na marra.

O PT se envolveu em negócios com empreiteiros e fornecedores do estado para financiar suas eleições e suas alianças políticas?  

Alguns dirigentes petistas aproveitaram o clima favorável do dinheiro rolando fácil para por uma graninha no bolso? 

E daÍ? Deixemos a hipocrisia de lado.

Era dessa forma que que sistema político funcionava - e continua a funcionar, vide a vitória de Temer na Câmara dos Deputados na semana passada -  desde quase sempre no país. 

Este "modus operandi" do sistema político foi escancarado, na República pós-democratização, quando da compra por FHC do direito, que a Constituição lhe negava, de disputar novas eleições estando na presidência da República. Comprou votos de deputados, corrompeu partidos e parte da imprensa, para obter apoio ao segundo mandato.

Deputados e dirigentes partidários que usam a política para enriquecer sempre existiram na nossa história. Acabam sendo pegos, de uma forma - pelos órgãos policiais e da justiça - ou pela opinião pública. Sejam de qual partido façam parte. Têm sido assim. É bom que seja assim. Os do PT, na sua grande maioria, possuem comportamento exemplar. É só conferir as estatísticas de processos contra parlamentares e constatar os partidos mais problemáticos (PMDB, PSDB e PP).  

Quanto às finanças partidárias, PT fez exatamente o mesmo que o PSDB, PMDB, DEM, PP, PSB e PPS fizeram e continuam a fazer. O sistema político brasileiro funciona movido à grana, como quase todos os sistemas políticos dos países capitalistas avançados - uns mais, outros menos. Quem acompanha a série americana "House of Cards", sabe, e bem sabe, como a política americana funciona, como se dão as relações entre a Casa Branca e o Congresso na democracia americana. Nada republicanas, nada éticas. 

Por que o ódio contra o PT de parte da direita brasileira e da "matilha" barulhenta da classe média-alta das nossas grandes cidades? Porque eles não admitem que um partido de origem na classe média intelectualizada e com dirigentes do mundo das fábricas e dos sindicatos de trabalhadores possa disputar e exercer o poder. É uma questão de classe, de supremacia social. A direita brasileira e sua banda de música elitista odeiam o mundo dos que não possuem grana, não frequentam os shopping-centers de luxo, os que não acham que Miami é o verdadeiro paraíso na terra. Odeiam.

O que fizeram para deter o PT e a enorme capacidade política eleitoral demonstrada pelo partido? Como não podiam vencê-lo de acordo com as regras estabelecidas - as lícitas e as não tão lícitas assim, mas aceitas pelo sistema - partiram para a criminalização do partido e de seus dirigentes. 

Tudo começou com o já histórico "mensalão", como se tivesse sido invenção do PT aquela forma incorreta e nada republicana de estabelecer alianças políticas. Acho até que o PT errou, poderia ter buscado outros caminhos, outros mecanismos. Mas é inegável reconhecer que era forma e hábito aquele proceder. Tanto que mecanismo igual tinha sido posto em prática, anos antes, por FHC na compra de sua maioria parlamentar no segundo mandato e nas eleições disputadas pelo PSDB, em 1998, em Minas Gerais, por Eduardo Azeredo (que depois foi presidente nacional dos tucanos). 

Por que o PT foi punido e o PSDB não? Porque não se buscava uma nova forma de fazer política. Mentira. Isso apenas existia nos discursos inflamados de juizes travestidos de moralistas de ocasião. O objetivo, como o futuro descortinou, tinha apenas um alvo: atingir o Partido dos Trabalhadores. 

Hoje a caça ao PT é a caçada histérica, despropositada e exdrúxula, de parte do poder judiciário e da grande mídia - que é a atiçadora maior do clima de ódio e violência politica que começamos a viver com mais intensidade país - à maior liderança do partido e um dos políticos mais populares do Brasil moderno: Lula.

Lula é o alvo. Precisam destruir Lula e seu legado. Conseguiram um juiz de primeira instância e uma suposta força-tarefa anti-corrupção que topam-tudo, que atropelam as leis e a Constituição, em nome da "regeneração" do sistema político brasileiro. Que, por incrível que pareça, para eles se resume ao ataque sistemático ao PT e aos seus então aliados - muitos apenas por conveniência. 

À justiça podre, instrumentalizada, se juntam, com espaço crescente nas mídias impressas e televisas, os intelectuais de direita. Estes hoje ocupam um lugar cada vez mais expressivo, "dominando tudo" nos meios de comunicação.  

No domingo, nas páginas da Folha de S. Paulo, o filósofo dito liberal e frequentador assíduo dos salões da grande burguesia nacional, Eduardo Gianetti da Fonseca, defendeu, sem qualquer cerimônia, um rito célere, de acordo com o calendário eleitoral, para o julgamento de Lula na justiça.

Hoje, na mesma Folha, o filho do bacana, Joel Pinheiro da Fonseca, apresentado como "palestrante ativo do movimento liberal brasileiro", afirma: "Lula poderia ter sido um grande líder, mas não foi nem nunca será". E, mais à frente, o veneno: "Lula tentará de todos os jeitos dividir o eleitorado e promover o ódio social". 

Vejam as armas sujas da direita, apresentadas sem qualquer pudor. Querem não apenas condenar e destruir o futuro de uma liderança política que não comunga com as suas idéias, uma liderança popular da  importância de Lula, como querem enterrar seu passado - então não foi um grande líder um ex-presidente que concluiu os seus mandatos com mais de 80% de aprovação popular? A direita quer reescrever a história política do país, à sua maneira.

E não só: o jovem neoliberal acusa Lula de dividir o eleitorado - como se o eleitorado não fosse dividido em qualquer democracia moderna - e o acusa de promover o ódio. A mesma senha usada contra o PT. O mesmo mecanismo de inversão: ele tenta destruir Lula como personagem e como politico e acusa ele, Lula, de ser o promotor do ódio. 

A direita veio à luta, com golpes cada vez mais baixos. Ou reagimos ou vamos pagar um preço altíssimo no futuro muito próximo.


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