O velho Marx com o brilhantismo da sua sociologia já nos ensinava que as classes sociais são para além de formações econômicas, também construções socio-políticas. Então o operário pode ser operário de uma fábrica, empregado no caixa de um banco ou garçon de um restaurante, mas pode se sentir parte de "uma nova classe média". Neste caso ela é uma classe operária ou trabalhadora em si, só na sua situação diante da economia.
A classe só se torna classe de fato quando ela passa a se reconhecer solidariamente como classe. A partir daí ela passa a ter um projeto de sobrevivência como classe e de solidariedade de classe. Os trabalhadores que se acham "a nova classe média" nunca se constituirão como classe e nunca terão um projeto político claro e próprio. Nunca serão classe para si.
Um erro grande do lulismo/novo petismo foi tratar toda uma extração operária, trabalhadora, o "pobretariado" que nós fizemos subir degraus de cidadania como "nova classe média".
Esta tentativa de transformar este "pobretariado", que passou a consumir e ter direitos, como classe média, estava inscrita em uma estratégia não consciente mas coerente com a forma como nos iludimos com a luta de classes no Brasil, ou melhor, com a ilusão de que ela não existia ou que havia um pacto social permanente entre os trabalhadores e a burguesia brasileira.
Nunca haverá! A burguesia no Brasil (e não brasileira, porque nossa burguesia não gosta do país e não tem projeto de nação, não podendo então ser chamada de "brasileira". Mas isso falarei no próximo artigo) não passa de um arremedo de classe. De uma gerência estrangeira em solo nacional. Da gerência de um engenho colonial, como dizia Darcy Ribeiro, especializada em gastar gente e exportar riquezas para as matrizes imperialistas.
Mas voltando ao "pobretariado", nosso erro grasso foi não ter como dizia o velho Marx, ter feito nosso dever de casa como partido de esquerda, como partido da mudança social, como partido dos debaixo, como partido dos pobres... ter feito tudo que fosse necessário do ponto de vista político, cultural, comunicativo, organizativo e pedagógico para transformar esse "pobretariado" em classe para si. Ou seja, em uma força material, política e orgânica com consciência de seu papel na construção da nação brasileira mais justa, mais igualitária e mais feliz.
Não será a burguesia no Brasil que realizará ou ajudará a realizar a tarefa de construção da nação brasileira. Aquela nação que o presidente Lula tão bem começou a construir, com o povo incluído; com a soberania nos Brics; com os negros e pobre nas universidades; com o Nordeste e o norte se desenvolvendo; com as favelas do Rio sendo urbanizadas, apesar da turma do Cabral comandar o Estado do RJ; com o Brasil respeitado no G20 das principais nações do mundo!
Esse país incompleto e inconcluso, iniciado por Getúlio Vargas; tentado por Jango; sonhado por Brizola; trabalhado por gerações e gerações de lutadores populares e de esquerda ao longo de dezenas de décadas; Essa "nova Roma", o império luminoso, alegre e democrático, para mais uma vez citar Darcy, que Lula fez o povo tocar com as mãos, não será obra de uma burguesia nacional. Só pode ser obra de suas classes populares no comando das instituições e no comando de um estado popular, democrático, produtivo, redistributivo e desenvolvimentista.
É nossa tarefa desde já preparar a classe social e o bloco histórico de aliados sociais que vão construir e sustentar os embates para a construção desta nova nação brasileira. Este "povo brasileiro", composto pela classe operária; pelos estudantes egressos dos programas sociais lulistas; pelos sem terra do MST e da Contag; pelos pequenos agricultores; pelos diversos grupos culturais das periferias; pelos sem teto do MTST e movimentos de moradia; pelas associações e movimentos de moradores da Conam; pelo movimento negro; pelo movimento de mulheres; pelo movimento GLBT; pelos ambientalistas que se preocupam com o planeta, com plantas, animais e seres humanos; etc..
Constituir na luta contra o golpe e as contra reformas neoliberais do governo ilegítimo brasileiro; e na campanha presidencial e estaduais de 2018, uma plataforma de construção nacional liderada pelo Presidente Lula; construir instrumentos de comunicação e difusão cultural; construir escolas de formação de militantes e quadros políticos em todos os estados brasileiros; construir coletivos de militância cultural; construir uma igreja evangélica de esquerda e a sua teologia da prosperidade solidária; construir um movimento cultural e pedagógico que tome cada escola ou universidade do país e os transforme em ponto de debate sobre a nação democrática, popular, justa, igualitária e feliz que queremos e vamos construir.
Desde já temos que criar a força material de transformação social. Para isso o PT, que indubitavelmente é o mais importante partido popular e de esquerda da história do Brasil, deve construir uma grande frente política de atuação de massa e de formação militante com os demais partidos de esquerda, centrais sindicais, sem terra, sem teto, igrejas, movimentos populares diversos. Só um amplo movimento criativo e militante, orgânico, presente nas periferias e no Brasil profundo vai sustentar um país que tem a sorte de ser lindo e rico, mas o azar de não ter uma elite que preste e nem um povo para si!
Esta é uma tarefa pra já, mas também para quando Lula novamente ganhar (2018) e para ter força para governar e construir o Brasil que ele e todos nós queremos.
Mãos à obra!
Washington Quaqua é presidente estadual do PT e ex prefeito de Maricá por dois mandatos (8 anos).
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