Na elite brasileira falta tudo. (Por Luciana Hidalgo)

Na época do julgamento do “mensalão”, perguntei a um eleitor do FHC se ele achava que no PSDB não havia corrupção. Ele respondeu: “Sim, claro, mas os do PT são piores porque são ladrões de galinha.” E deu um risinho irônico elitista. Pouco depois ouvi piadinha esdrúxula de uma conhecida sobre a falta de um dedo do Lula. E ontem li essa frase no Face: “Se Moro quiser ferrar o Lula no interrogatório, é só mandar ele dizer o alfabeto ou a tabuada.” Acho isso até curioso, que tantas pessoas “estudadas”, “viajadas” tenham esse complexo de inferioridade em relação a Lula, o “sem-dedo”, o “torneiro mecânico”. Afinal, uma pessoa só tem necessidade de humilhar outra quando se sente por baixo. E pensar que essas três pessoas foram educadas nos melhores colégios da zona sul carioca, ainda que não cheguem a ser brilhantes nem no que fazem nem no que escrevem (já li em posts delas erros de português como os do Lula). Pois eu nasci na mesma classe média zona sul, trabalhei nas maiores redações de jornais do Rio, ganhei prêmios literários importantes, fiz mestrado, doutorado, dois pós-doutorados, um no Brasil outro na Sorbonne, na França, e talvez por isso, exatamente por isso, eu não compreenda o que leva uma parte das elites brasileiras a se comportar nesse nível intelectual baixíssimo, se é que se pode chamar isso de “intelectual”. E o pior: em público. Falta leitura? Falta. Falta maturidade política e intelectual? Falta. Falta uma percepção mínima da complexidade do nosso país? Falta. Falta autocrítica? Falta. Concluo: enquanto uma parcela de brasileiros e brasileiras não matar os sinhozinhos e sinhazinhas que até hoje governam seus instintos mais bestiais, não avançaremos como nação. O linchamento de Lula, em toda a sua violência verbal, em toda a sua pobreza intelectual, em cada risinho irônico elitista, mostra o tamanho do nosso atraso.

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