Arthur Brand afirmou que no início de março entregou a uma
seguradora a obra de 1938 "Portrait de Dora Maar", também conhecida
como "Buste de Femme (Dora Maar)".
A descoberta do raro retrato de Maar - uma das figuras
femininas mais influentes da obra de Picasso - foi o ponto alto de uma
investigação de quatro anos sobre o roubo no iate Coral Island quando estava
ancorado em Antibes.
Duas décadas depois do roubo e sem nenhuma pista, a polícia
francesa parecia resignada e o retrato, que estava na casa de Picasso até sua
morte em 1973, parecia perdido para sempre.
Mas depois de seguir durante quatro anos uma pista que o
levou ao submundo do crime na Holanda, dois intermediários compareceram ao
escritório de Brand há 10 dias com o famoso retrato.
"Eles trouxeram a pintura, que agora está avaliada em
quase 25 milhões de euros, embrulhada em um lençol e em um saco de lixo
preto", disse Brand à AFP.
A recuperação da obra é uma nova vitória de Brand, que no
ano passado virou manchete em vários jornais do mundo ao encontrar e devolver
ao Chipre um mosaico de 1.600 anos de antiguidade.
Em 2015 encontrou os famosos "cavalos de Hitler",
duas estátuas de bronze do artista nazista Joseph Thorak.
Drogas e armas
O roubo do quadro de Picasso, na época avaliado em US$ 7
milhões (cerca de R$ 26 milhões), pegou de surpresa a polícia francesa, mas
obrigou os bilionários a intensificar a segurança nos iates.
Em 2015, Brand recebeu informações de que "um Picasso
roubado de um iate" estava circulando na Holanda, mas "no momento não
sabia exatamente qual era a obra".
O quadro, na verdade, estava no circuito criminal, onde
circulou durante vários anos como garantia de pagamentos, "aparecia em um
negócio de drogas aqui, anos mais tarde em um negócio de armas", explica.
Desde o roubo, a obra mudou de mãos "uma dezena de
vezes" e isto provocava temores sobre o estado da pintura.
Foram necessários vários anos e algumas pistas falsas até
ele conseguir determinar que era o Picasso roubado do iate do bilionário
saudita Abdul Mohsen Abdulmalik Al Sheik.
Brand conseguiu divulgar no submundo holandês seu interesse
na obra "Buste de Femme (Dora Maar)" e no início de março teve êxito.
"Dois representantes de um empresário holandês entraram
em contato, dizendo que seu cliente tinha a pintura", conta.
De acordo com suas informações, o empresário "pensou
que o Picasso era parte de um negócio legítimo".
"O negócio foi realmente legítimo, mas o método de
pagamento não foi", explicou Brand.
O detetive alertou imediatamente as polícias da Holanda e da
França. As autoridades francesas já haviam encerrado o caso e, diante do atual
cenário, informaram que não processarão o empresário e atual proprietário da
obra.
Brand afirmou que era necessário agir rapidamente para
evitar o novo desaparecimento da obra.
"Eu disse aos intermediários: 'é agora ou nunca, porque
o quadro provavelmente está em mau estado. Temos que agir o mais rápido
possível".
Finalmente, há pouco mais de uma semana, Brand abriu a porta
de seu modesto apartamento em Amsterdã e ali estavam os dois intermediários com
a obra.
"Coloquei o Picasso em minha parede durante uma noite e
transformei meu apartamento em um dos mais caros de Amsterdã por um dia",
afirmou Brand, sem conter as gargalhadas.
No dia seguinte, um especialista na obra de Picasso da
galeria Pace (Nova York) voou a até Amsterdã para comprovar a autenticidade em
um local seguro.
Também estava presente o detetive britânico Dick Ellis,
fundador da unidade da Scotland Yard sobre arte e antiguidades, e que viajou em
representação a uma seguradora não identificada.
"Não há dúvidas de que é o Picasso roubado", disse
Ellis à AFP.
Ellis é famoso por ter recuperado várias obras roubadas,
inclusive "O Grito", de Edward Munch, que foi levado da Galeria
Nacional da Noruega em 1994.
O retrato de Picasso está agora com uma seguradora, que terá
que decidir os próximos passos, explicaram Brand e Ellis.
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