Meras coincidências? (Por Benedito Tadeu César)


Há algo de muito grave acontecendo. As relações estão se deteriorando rapidamente no interior do Judiciário e do Ministério Público. STF e PGR estão limitando a ação da Força Tarefa da Lava Jato, quanto à criação de fundação privada com recursos públicos e quanto à atribuição para investigar e julgar Caixa 2 eleitorais, e STF e PGR estão sendo bombardeados pela República de Curitiba. A decisão do STF de ontem, em relação às atribuições da Justiça Eleitoral e as medidas tomadas por Dodge frente à fundação privada batem de frente com os procuradores da Lava Jato, os enfraquece e, de quebra, enfraquecem Moro, tudo isso com o apoio das associações nacionais de magistrados. Em contrapartida, os procuradores federais reagiram hoje, com nota pública de sua associação nacional atacando o STF e Dodge e com a renúncia de dois assessores de Dodge,.

Isso não parece ser apenas briga interna do poder judiciário e nem parece ser apenas reação ao impedimento da criação da fundação privada alegadamente de "combate à corrupção", com os recursos advindos de multa aplicada pela Justiça dos EUA (com a ajuda do procurador Dallagnol, do juiz Moro e do procurador geral Janot) à Petrobrás. Os procuradores e a Força Tarefa foram nitidamente longe demais em sua busca de poder e isso explica em parte a reação dos magistrados e do STF. Há também uma disputa pela indicação do novo PGR e Dodge há dias já tomou medidas que dificultam em muito o intento da República de Curitiba de incluir Dallagnol na lista tríplice.

Tudo isso é grave, mas não parece que estas disputas interna corporis sejam a explicação 
suficiente para o enfrentamento em curso. Algumas dúvidas ficam no ar e será preciso alguma pesquisa para se saber o que de fato está ocorrendo. O que terá feito com que aqueles poderes (e seus integrantes), que foram os maiores apoiadores do golpe do impeachment de Dilma Rousseff e da prisão e impedimento da candidatura de Lula, estejam agora se digladiando?

Sem qualquer ligação aparente entre o embate STF/PGR x Força Tarefa da Lava Jato/República de Curitiba, outros fatos ocorridos nos últimos dias revelam a gravidade do momento que o país atravessa.

A prisão dos acusados pela execução de Marielle e Anderson e a apreensão de 117 fuzis M27 (desmontados e sem os canos), de uso exclusivo dos Mariners dos EUA (que só começaram a utilizá-los no ano passado) com números de série das FFAA dos EUA, autorizam a suspeita de que algo muito grave está em curso. O armamento apreendido, e que foi encontrado com o acusado de ter disparado os tiros que mataram Marielle e Anderson, é original, nunca utilizado e suficiente para equipar uma grande força de combate.

Ainda que o G1 tenha noticiado que os fuzis são falsificações do M27 e dos seus números de série (?!), até agora não houve nenhum pronunciamento oficial confirmando que eles não são armamentos exclusivos das forças armadas dos EUA. Assim sendo, algumas indagações se impõem e merecem respostas dos poderes públicos.

Como esse armamento foi adquirido? Quem intermediou a aquisição? Como eles entraram no país? Os fuzis terão sido adquiridos apenas para ações das milícias nas "comunidades" do Rio de Janeiro? Até onde vai a força e a influência dessas milícias? Quais as suas ligações com forças políticas e com as esferas de poder mais elevadas no país?

Por Benedito Tadeu César - cientista político.

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