Principais quadros do Psol rompem com Edilson Silva que fica cada vez mais isolado no partido.


O deputado Edilson Silva perdeu o apoio dos principais quadros da corrente Somos Todos Psol, na qual ele lidera em cinco Estados do Norte e Nordeste. Nesta segunda-feira (29), vários psolistas de Pernambuco que pertencem ao grupo lançaram uma carta de ruptura criticando a condução do parlamentar a frente do colegiado.
Edilson foi acusado de adotar uma política centralista e autoritária; de faltar com transparência com recursos do partido; de faltar com um projeto político; de um programa político; de projetos de organicidade; e ainda de um péssimo diálogo político.
O documento foi assinado por dezenas de quadros do partido, como presidentes municipais da legenda no Estado e nomes como os ex-candidatos a vereador Leonardo Cisneiros; Severino Alves "Biu" e a ex-candidata a vice-prefeita do Recife na chapa comandada pelo próprio Edilson Silva em 2016, Luciana Cavalcanti.
Nomes de outras correntes como Pedro Josephi, Roberto Numeriano e Zé Gomes já tinha rompido com Edilson Silva.
O vereador Ivan Moraes Filho o e o ex-deputado Paulo Rubem Santigo, que são independentes dentro do partido, saudaram a atitude dos membros da corrente Somos Todos Psol.
Além de Pernambuco, membros da corrente Somos Todos Psol do Acre, de Alagoas, de Roraima e da Bahia romperam com o deputado. O único que está ainda o apoiando são os quadros da Paraíba.
Leia a nota na íntegra:
CARTA DE RUPTURA COM A CORRENTE ‘SOMOS PSOL’
Da maneira como o Brasil está configurado atualmente é um cenário singular de desafios para as Esquerdas em meio ao já caótico e desafiante cenário internacional de avanço de ideias e forças conservadoras. O cenário brasileiro é muito semelhante ao que já está posto em terras europeias: a esquerda está se reorganizando em novas estruturas partidárias e na sociedade civil organizada.
Diante de tal cenário, fica evidente qual o papel do Partido Socialismo e Liberdade na conjuntura nacional, que é ser um dos protagonistas da reorganização do campo da esquerda socialista brasileira. O PSOL deve ter a capacidade de dialogar com as demais forças progressistas. Temos, em períodos e dinâmicas distintas, acompanhado e construído o PSOL enquanto alternativa organizacional e partidária de resistência anticapitalista e de defesa de um projeto nacional protagonizado, de fato, pelas trabalhadoras e trabalhadores. Nossa missão não é fácil, pois precisamos trazer de volta o brilho nos olhos da militância, que se afastou por erros que não foram do nosso partido, e trazer encantamento às pessoas que cada dia mais se decepcionam com a política.
Com a formação do nosso partido, construiu-se um consenso no PSOL Pernambuco de que era necessário, para o crescimento do partido no estado, investir na tática de construção de uma figura pública para a apresentação de nossa pauta política. Mediante a escolha acertada de um discurso crítico à política de governabilidade e à incoerência da dinâmica eleitoral das esquerdas, o PSOL conquistou uma parcela pequena, mas consolidada do eleitorado até então. Foram três eleições majoritárias protagonizadas pelo companheiro Edilson Silva: em 2006, 2008 e 2010, até a leitura de que seria possível a eleição de nosso primeiro quadro no Poder Legislativo, consolidando aquela tática política traçada anteriormente e fortalecendo nossas condições de disputa no médio prazo.
Nas eleições municipais de 2012, o PSOL encontra um cenário local favorável ao seu crescimento, com o colapso político do petismo no Recife em decorrência de suas disputas internas e com o aumento da crítica de setores da esquerda social às parcerias questionáveis entre as gestões petistas e o mercado imobiliário, críticas estas, simbolizadas sobretudo no emblemático caso do Estelita. É na eleição municipal deste ano que, com amplo apoio dos segmentos que não enxergavam no PSB uma alternativa ao projeto petista no Recife, uma candidatura proporcional ganha relevância majoritária no debate de projeto urbano e administrativo e Edilson recebe quase 14 mil votos do eleitorado, resultando na terceira candidatura mais votada para a Câmara Municipal.
Já naquele momento, diante do choque entre uma votação tão expressiva e a não obtenção da vaga no legislativo municipal, se evidenciou que o PSOL não conquistou seu primeiro assento na Câmara porque ficamos devendo uma Chapa consistente ao nosso eleitorado. De certo modo, a perspectiva de nos apresentar no processo eleitoral concentrando esforços em um rosto e uma voz acabou contendo o crescimento do partido e, pior do que isso, acabou se espelhando em uma dinâmica partidária interna que levou a um partido centralizado, hermético, confundido com uma única figura. A tática, que antes era consensual, mostrava suas falhas e limitações. Para fora, o alcance político do PSOL acabou, para bem ou para mal, por se confundir com as simpatias e antipatias conquistadas pela nossa principal figura pública.
Em 2014, o primeiro Mandato do PSOL Pernambuco veio, por causa de uma tática arriscada de coligação, mas também por causa da ampliação da densidade eleitoral da chapa através de uma acertada política de construção de lideranças no interior do Estado, importante para a consolidação estadual da legenda. Com o mandato, vieram também cobranças mais firmes para uma ampliação da Política. No entanto, o centralismo da condução do Partido se reproduziu no Mandato, sem abertura à participação dos vários setores partidários e com pouca representação das forças e das pautas de fora da Região Metropolitana do Recife. Inclusive, parte da bem montada Chapa que permitiu superarmos o obstáculo de 2012 não se viu reconhecida na vitória tampouco representada no Mandato em construção. Dentro do mandato, as pautas não são discutidas coletivamente, pois a relação entre o deputado e sua assessoria foi construída de forma patronal e verticalizada, um modelo ultrapassado para uma nova esquerda que surge exigindo construções coletivas e horizontais.
Do ponto de vista da organização política estadual, o Mandato pouco contribuiu para atender, respaldar e fortalecer os militantes e grupos atuantes nas diversas cidades onde o PSOL está presente. A crítica feita não é mera constatação da praticamente nula representação regional do Gabinete, mas remete à ausência de atenção a pautas relacionadas ao interior do estado, mesmo aos municípios onde historicamente o PSOL existe e tem participação eleitoral. Essa relação foi oportunisticamente alterada após o processo eleitoral de 2016 revelar resultados potenciais em diversas cidades do interior. Tendo em vista o jogo da disputa interna do PSOL o mandato procurou contemplar aqueles que tiveram bons resultados eleitorais com emendas parlamentares. Se essa política de fortalecimento de nossas bases no interior tivesse sido feito antes, certamente teríamos tido um acumulo mais relevante para a necessária capitalização do partido no Estado.
Nas eleições municipais de 2016 a construção programática e estratégias de Comunicação e Debate Político da candidatura majoritária à Prefeitura do Recife apresentaram elementos problemáticos da perspectiva de um Programa Socialista, mas, sobretudo, deixaram evidente a compreensão personalista e centralizada do Candidato. O discurso que permeou desde a propaganda política até os debates frisava a prioridade do empreendedorismo, da livre iniciativa e da Economia Criativa de modo evasivo e de difícil diferenciação com as perspectivas Liberais, beirando a perigosa fronteira ao debater e propor políticas de voucher na Educação Pública. As decisões, sejam da estratégia de Comunicação /Propaganda, sejam referentes ao Debate Político Eleitoral não passaram de modo transparente e efetivo pela necessária reflexão coletiva da Chapa de Proporcionais, das instâncias partidárias ou mesmo dos militantes do Somos Psol. Além disso, a Coordenação de Campanha restrita a uma pessoa não conseguiu atender e envolver o conjunto da representativa Chapa proporcional apresentada para aquelas eleições.
A política centralista e subordinada à inconstância do deputado acabou provocando uma absorção de toda vida partidária, em suas variadas dimensões, à defesa da política do Mandato e do mandatário. A dinâmica da vida partidária, com suas reuniões e instâncias, foi sendo desmontada para dar espaço às atividades centradas na promoção do mandato. Até mesmo a condução da política do Setorial de Mulheres - inexistente no Estado -, em uma conjuntura de forte ascenso nacional da pauta feminista, acabou subordinada à defesa do núcleo de poder centrado no mandatário estadual e do mandato em si. Destino melhor não conseguiu ter a Corrente Somos PSOL, com uma coordenação formada sem qualquer institucionalidade e confundida cada vez mais com a Direção Majoritária e/ou a assessoria Parlamentar, sem regularidade nas suas reuniões e plenárias, sem um processo contínuo de construção programática e sem a possibilidade de uma dinâmica de organização, mobilização e formação minimamente independente da dinâmica do mandato. Em abril deste ano ocorreu um desmonte nacional da tendência, tendo a militância do Acre, de Alagoas, da Bahia e de Roraima rompido com a tendência, visto que o Somos Psol é uma ficção – não existe programa político nacional, não há uma coordenação previamente estabelecida etc.
Apontamos alguns dos motivos que levaram a tal fato: a) Falta de um projeto político – a inconstância do discurso e da tática, em que opiniões sobre diversos temas mudam de acordo com o interesse pessoal da principal liderança do Somos Psol; b) Falta de programa político – O Somos PSOL não possui um programa político, material de referência teórica ou apontamentos estratégicos. ; c) Problemas de organicidade – não existem reuniões ordinárias, não existem espaços de formação política, além de não haver uma coordenação política democraticamente eleita (a atual “Coordenação Nacional do Somos PSOL” tem militantes recém-filiados em alguns estados e assessores que circunstancialmente são de confiança); d) falta de legitimidade dos espaços deliberativos – conforme já dito, não existe coordenação do campo político, as coordenações são sazonais e variam de acordo com a confiança política do momento, sendo as temáticas, táticas e articulações decididas por deliberação monocrática do seu dirigente máximo; e) falta de transparência dos recursos destinados ao Somos Psol ; f) Personalismo – A insistência no discurso de “ criação de figuras públicas” é artificial e um desserviço a construção de um modelo descentralizado de política, que possa aproximar mais o cidadão do representante, com inovações como mandatos coletivos. O futuro da organização da esquerda é um projeto político coletivo; g) Autoritarismo nas decisões partidárias - Se essa forma centralista de condução do PSOL nunca foi novidade para os militantes de esquerda de Pernambuco, o seu impacto negativo se amplia fortemente quando o partido alcança novos patamares de relevância política e de responsabilidade com um projeto de esquerda para o país ; h) O constante e desleal modus operandi de deslegitimação política e moral das companheiras e companheiros do mesmo campo. i) Belicosidade excessiva - A falta de autocrítica dos dirigentes "fundadores", a constante beligerância no trato pessoal e o péssimo diálogo político com as demais forças do partido, faz com que o PSOL em Pernambuco seja um espaço de pouca construção partidária coletiva.
Num momento em que o PSOL se amplia, em que novos quadros de grande qualidade se juntam ao partido e à Corrente (Somos Psol), em que o partido finalmente consegue montar uma chapa proporcional plural e representativa e com isso conquistar um mandato importante no Legislativo Municipal da Capital, em que o esfacelamento do projeto político de Eduardo Campos cria a demanda por um projeto de Esquerda em todo território do Estado, nos vemos ainda reféns de uma cúpula presa na pequena política das picuinhas. O grupo centrado em torno do mandato estadual muitas vezes apela à justificativa da unidade do partido para defender as suas decisões políticas, mas não há unidade verdadeira na supressão da pluralidade e da própria vida partidária. A falsa unidade da centralização é que tem alimentado cada vez mais tensões no partido e o arrastado cada vez mais para a areia movediça da disputa interna, enquanto do lado de fora se desenrola, sem nos esperar, um dos cenários políticos mais graves que esse país já viveu.
As divergências agora apresentadas foram em muitos momentos colocadas à mesa, com franqueza e companheirismo, mas sempre minimizados ou combatidos. A dinamização da Política partidária - defendida por alguns de nossos dirigentes - foi tratada, ao longo dos últimos anos, como um afrouxamento das tensões tidas como necessárias para a hegemonia do grupo dirigente que, como recurso último de legitimação, insiste na condição de “fundadores” da legenda. Qualquer dissenso foi, ao longo deste período de esforço de consolidação partidária, combatido, e qualquer proposta de ampliação e arejamento das práticas institucionais e políticas foi tratada como um desrespeito ao esforço militante de fundação do partido. Silenciava-se a pluralidade de ideias em uma flagrante falsificação de consensos. A tentativa de construir um narrativa de corrente “em construção” que aceita todos de “braços abertos” não convence mais diante do histórico da condução política e dos recorrentes métodos anteriormente descritos.
Pelo exposto, declaramos o rompimento com o Somos Psol – contudo, permanecemos compondo a Unidade Socialista, responsável em grande medida pelas acertadas decisões e posicionamentos de nosso partido em meio à presente crise. - e apontamos por uma construção partidária em Pernambuco que tenha a capacidade de dialogar com as demais forças do partido. Os novos desafios das esquerdas nos exigem novas práticas e ideias, bem como a necessária coerência entre umas e outras. O PSOL pode ser uma força catalisadora da reorganização das esquerdas no Brasil e da reorganização das lutas sociais. Para tanto, o PSOL precisa ser um partido plural, militante, dinâmico e radicalmente democrático em suas instâncias. O PSOL necessita estar a serviço da reorganização da esquerda no Brasil.
Nós que assinamos esse documento seguiremos lutando pela unidade de nosso partido, priorizando o debate da grande Política e respeitando sempre as divergências e a pluralidade de ideias.
Adelson Sobral – PSOL Recife
Agenor Facundes – PSOL Olinda
Albérico Sigismundo – PSOL Recife / Ex-candidato a deputado estadual em 2014 e vereador do Recife em 2016
Ana Karla Cavalcanti – PSOL Recife
Bruno Fernandes – Direção Municipal PSOL Olinda / Ex-candidato a vereador de Olinda em 2016
Deyverson Soares Barros – PSOL Agrestina
Diego Liberalino – PSOL Cabo
Diego Soares – Direção Municipal PSOL Agrestina
Dimas Veras – PSOL Recife
Edmilson Lira – Direção Estadual / Presidente PSOL Alagoinha
Edson Fraga “Neguinho” – PSOL Olinda / Ex-candidato a vereador de Olinda em 2016
Eliana Rodrigues Cavalcanti – Suplente Direção Estadual / PSOL Recife
Eliane Maria de Souza – Direção Municipal PSOL Olinda / Ex-candidata a vereadora de Olinda em 2016
Eugênia Lima – PSOL Olinda / Ex-candidata a vereadora de Olinda em 2016
Eugênio Prazeres – PSOL Recife 
Fernanda Cavalcanti – Direção Estadual / PSOL Recife
Fernando Caldas – PSOL Recife
Francisco Soares “Chico do PSOL” – Presidente PSOL Agrestina / Ex-candidato a prefeito de Agrestina em 2016.
Gleydson Goés – Presidente PSOL Cabo / Ex-candidato a prefeito do Cabo de Santo Agostinho em 2016.
Heloiza Melo – PSOL Recife
Ionar Lucia da Silva – Direção Municipal PSOL Olinda
Jonas van der Ploeg – PSOL Recife
José Henrique – Direção Municipal PSOL Cabo
José Jones Pereira – PSOL Agrestina
José Luiz da Silva “Zinho” – Presidente PSOL Moreno
Juliana Vitorino – Direção Municipal PSOL Recife
Lucas van der Ploeg – Executiva Estadual / Diretor-Financeiro da Fundação Lauro Campos
Luciana Cavalcanti – Executiva Estadual / Direção Municipal PSOL Recife / Ex-candidata a vice-prefeita do Recife em 2016
Luciana Mesquita – PSOL Recife
Leonardo Cisneiros – PSOL Recife / Ex-candidato a vereador do Recife em 2016
Marcio Vieira – PSOL Jaboatão / Ex-candidato a vereador do Recife em 2016
Mauro Lira – PSOL Alagoinha
Micelia Simplicio – PSOL Recife / Ex-candidata a vereadora do Recife em 2016
Michel Chaves – Conselho Nacional de Ética do PSOL / PSOL Recife 
Paulo Inojosa – PSOL Cabo
Sandra Paixão – Direção Municipal PSOL Olinda / Ex-candidata a deputada estadual em 2014
Samuel Herculano – Direção Estadual / Direção Municipal PSOL Olinda
Severino Alves “Biu” – Presidente PSOL Recife / Ex-candidato a vereador do Recife em 2016
Tiago Paraíba – Executiva Estadual / PSOL Recife
Wallamy Danilo – PSOL Cabo.

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