ATURA, DE UMA VEZ POR TODAS. (Por Rodrigo Perez Oliveira)

Desde 1988, o PMDB nunca teve menos que 49% dos mandatos no Congresso Nacional. Ninguém governa sem esses caras e são eles que dão a dinâmica da aliança.

A maior parte do poder é deles. Sempre foi deles.

É o acordo Cara X Cu, sacam? O PT entrou com o cu.

Depois do mensalão não havia outra saída que não vender a alma para o PMDB. O mensalão foi a prova concreta de que não dá pra governar de outra maneira. 

Ali, naquele momento, o governo chefiado por Lula tentou não ficar refém do PMDB, tentou comprar apoio de outros partidos, no varejo, no miudinho.

Deu merda! O projeto reformista quase acabou ali. Não fosse a genialidade politica de Lula, tinha acabado ali. 

A partir de 2006, todo mundo sacou que não tinha jeito: a saída mais estável para a governabilidade seria a aliança fisiológica com o PMDB, dando pros caras seis ou sete Ministérios gordos, de porteira fechada, pra eles roubarem à vontade. É o loteamento do Estado mesmo.

Rataria, sordidez.

A estratégia deu certo durante oito anos: entre 2006 e 2014, o governo ganhou 63% das pautas que foram apresentadas no Congresso Nacional. 

63%! 

Isso mundou a vida da nossa gente.

40 milhões de pessoas saindo da miséria, outras 30 milhões entrando pra classe média; crescimento de 100% da população universitária, aumento real e sempre crescente do poder de compra do salário mínimo.

Enfim, a vida daqueles que mais precisam do Estado ficou um pouquinho melhor, um tiquinho menos sofrida.

Nada disso caiu do céu. Isso foi resultado de negociata, de acordos, de compra de apoio.

"Se era pra ser assim, melhor mesmo é não se corromper. É não governar".

Tu já passou fome, ô cuzão? Já quis comprar uma geladeira e não teve crédito aprovado nas Casas Bahia? Já andou com kichute conga com cadaço amarrado na canela porque teu pai não tinha dinheiro pra comprar aquele tênis maneiro?

Tu já morou em casa de dois cômodos, com telha de amianto? 

Tu já precisou de política pública pra viver?

Não fode!

Você acha que o Deputado que representa os interesses do fazendeiro vai votar na expansão do bolsa família assim, na boa vontade? Você acha que os deputados e senadores recrutados nas elites da sociedade vão aprovar a implantação do sistema de cotas assim, de boa?

Você acha que um Congresso Nacional formado por homens aprova a Lei Maria da Penha sem ganhar nada em troca? Acha que os caras viraram feministos?

Tudo isso aí é política pública, é resultado das ratarias da política. Nada cai do céu não. O mundo é um grande puteiro.

“Então, na sua lógica, o Caixa 2 não é imoral?”

Depende.

Se o Caixa 2 é feito pelo PMDB, pelo PSDB, ele é imoral, pois esses caras controlam a maior parte do Estado e usam esse poder para manter seus privilégios. Tudo que esses caras fizerem é imoral, ainda que seja legal.

A legalidade joga no time deles.

Agora, se o Caixa 2 é feito pelo PT, pra ganhar eleição, acho mesmo que tem que rolar é Caixa 4.

É que quem não vence eleição não ocupa nenhum pedacinho do Estado. E quem não ocupa o Estado não faz política pública, não serve pra porra nenhuma.

“Mas Lula tinha mais de 80% de aprovação popular”.

Foda-se. Não serve pra nada.

Nosso sociedade tem pouca energia participativa. Se ela gosta ou não do governo é importante na época da eleição. Fora isso, no exercício do governo, pouco interessa.

A política institucional é palaciana. E não, eu não gosto disso.

Mas a realidade não se curva ao meu desejo. É o meu desejo que tem que se curvar à realidade.

E o que eu desejo, mesmo, é mais Estado, é política pública melhorando a vida de quem mais precisa. Por isso, tá tudo certinho pra mim: aliança com o PMDB, Caixa 02 e os caralhos. 

Tinha outro jeito não. E quem falar que tinha é mentiroso ou ingênuo. Ou até mesmo os dois.

Por Rodrigo Perez Oliveira, professor de Teoria da História na UFBA, dando o papo reto do que foi o governo do PT.

2 comentários:

Nível 2 Inglês 7º ano disse...

Tem que mandar o papo reto mesmo. Não se pode ficar de ladainha metido a "liberal" estadunidense sabe, Bernie Sanders? Que nem nossa esquerdinha de hoje fica. Falando vários conceitos e palavras com mais de seis sílabas. Não rola.
Acompanho o trabalho do Professor Rodrigo e vejo nele uma força narrativa popular necessária para lidar nesses tempos de udenismo.
A elite intelectual reclama que para nós tudo é udenismo. Porque é mesmo. Ninguém está afim de meter a mão na merda para pegar a nota de 10 reais que ele mesmo não precise.

Frau BUP disse...

pois é, e há quem argumente que o mensalação foi apenas uma forma encontrada para fazer os pulhas votarem a favor de pautas que beneficiavam a população mais carente...