A nova gestão e o fechamento dos portões

Em 1º de janeiro de 2025, o sol raiou em um horizonte já conhecido, mas com a promessa de novos ventos. Os novos prefeitos, ansiosos, tomaram posse com um discurso inflamado de mudanças e renovação. No entanto, mal haviam passado algumas horas desde que cortaram as fitas simbólicas como seus belos ternos e a primeira ação começou a se desenhar: o fechamento das repartições públicas. As portas, que deveriam ser de acesso, se tornaram barreiras.

O que parecia um cerimonial de esperanças logo foi sufocado por murmúrios de cidadãos perplexos. Um amigo me telefonou dizendo que se viu diante de um prédio com portões fechados e uma placa que trazia a justificação: “Fechado para reestruturação. O prefeito anterior deixou tudo bagunçado”. A indignação paira no ar, enquanto muitos se perguntavam: o que significa realmente "bagunçado"?

Estava claro que a nova gestão não teve hesitações ao seguir um roteiro comum, quase teatral, que parece ter sido escrito em conjunto por todos os prefeitos que assumiram seus cargos em 1º de janeiro de 2025. Menos diálogo e mais imposições. A cortina da mudança se ergueu, mas o espetáculo era o mesmo: a invisibilidade do povo em suas próprias demandas. Para quem deveria ser ator principal, bastou apenas se acomodar nas arquibancadas, sem qualquer direito ao aplauso, ou melhor, ao clamor.

Enquanto isso, os prefeitos se cercam de assessores, bajuladores e planejadores que reiteram a urgência das decisões mais radicais. Essa aclamada “bagunça” deixada pelo antecessor serviu para justificar não apenas o fechamento das repartições, mas também o corte de serviços fundamentais. As promessas de consultas públicas e envolvimento comunitário evaporaram com a fumaça dos fogos de artifício que saudaram a nova gestão.

Na cidade, os ecos das promessas se converteram em murmúrios de descontentamento. As filas se formaram do lado de fora dos prédios públicos já inativos, e a população, antes cheia de expectativas, começa a sentir o peso de uma realidade sem os serviços que garante a mínima dignidade e conforto. Agendas que antes eram despachadas e discutidas com a comunidade agora se tornaram uma burocracia misteriosa, de difícil acesso e penosa compreensão.

Gostaria de acreditar que essas ações se baseiam em uma lógica administrativa que julga o que é melhor para a população, mas à primeira vista, a indiferença se destaca. A sensação de que o novo é apenas um eco do velho se torna mais forte a cada dia, à medida que o fechamento das repartições se torna rotina e a população se sente cada vez mais afastada de uma gestão que deveria estar a serviço de todos.

Assim, em meio a reivindicações sufocadas e vozes silenciadas, seguimos nesta dança estranha entre a esperança e a frustração. As promessas de uma nova gestão não se concretizam nos gestos cotidianos de abertura e serviço, mas sim na repetição de velhos erros que nos custam a conexão e a confiança. É preciso fazer barulho, insistir na presença. Afinal, a cidade é de todos nós e o que foi encerrado à força precisa ser reaberto — para que possamos, juntos, escrever um novo capítulo para a cidade.

Os novos prefeitos assumem, mas o verdadeiro desafio será, um dia, encontrar o caminho de volta ao povo que deveria ser o centro das suas ações.

Nenhum comentário: