A minha geração está em choque.
Nos tornamos adultos e entramos para o mercado de trabalho na era “Lula e Dilma”.
Vimos uma universidade em expansão, contratando professores, com verbas para construir, reformar, ampliar acervo de biblioteca e número de bolsas.
Vivemos, durante mais de uma década, um governo que, se não era perfeito, mesmo assim se constituía num grande parênteses na história do Brasil.
Pois, de forma quase inédita, vimos um governo que tinha políticas públicas de geração de emprego, aumento real do salário mínimo, investimento em infra-estrutura, em educação (os ifets se tornaram escolas de 1ª linha), valorização da produção nacional, política pública para autonomia econômica de mulheres, criação do maior plano habitacional da história do país, um governo que tirou o Brasil do mapa da fome.
Do mapa da FOME!
Minha geração, daqueles que estavam conscientes do que estava acontecendo, conscientes da diferença que era ter gente de fato preocupada em avançar no que fosse minimamente possível para o bem-estar da população, acreditou que era possível ver o Brasil mudar de cara, devagarinho.
Nos empenhamos, lutamos, acreditamos.
Foram anos de muita luta e esperança.
Ouso dizer: de OTIMISMO.
Vimos a universidade crescer e dizer que filho de pobre também podia lá entrar.
Vivemos uma tentativa mínima de um Estado que, de fato, pensasse na população (eu sei, eu sei, com todas as limitações que nosso sistema político tem, com críticas, etc. etc. etc.) e em seu bem-estar.
Avisamos aos que só queriam derrubar tudo que não se podia jogar fora a criança com a água da bacia.
Hoje estamos aqui, voltando ao Brasil de sempre.
Deprimidos, chorosos, nos vendo reféns de um executivo e um legislativo que em meses destruíram um projeto de mais de década.
Paralisados pela dor. É assim que me sinto.
Dizem que tivemos que esperar até 1985 para ver alguma esperança. 21 anos.
De fato, tivemos que esperar até 2003 para Lula governar e realmente começar uma história diferente nesse país. Era um “parênteses”, já dizia Marco Aurélio Garcia.
E a minha geração, agora adulta e perto dos 40, teme pelo futuro, deprime-se cada dia mais.
Fomos todos jogados na mais BRUTA INSEGURANÇA. Voltamos ao Brasil da nossa infância e da era FHC, só que agora elevado à enésima potência de destruição.
O gigante que acordou e foi para rua de verde e amarelo viu, silencioso e preguiçoso, toda a destruição. Porque o que ele tinha dentro do coração era só ódio de classe.
A nação está ENTORPECIDA pelo tema da corrupção, cega para o que estão fazendo.
Não vai sobrar nada. Nunca foi pela corrupção.
Foi ódio aos pobres, classe média. Você não me engana!
Enquanto assistimos ao Jornal Nacional – que só fala em corrupção e lava-jato – TODOS OS NOSSOS direitos e conquistas estão sendo destruídos, em meses.
Me sinto confusa, perdida e sem forças para lutar.
No fundo penso: a população, aquela que encheu as ruas de verde e amarelo, ela quis isso.
É a mesma que, por misoginia, gritou “Fora Dilma”, mas que agora, no silencio da cumplicidade, diz baixinho: “Fica Temer” – “Tá ruim com você, mas pelo menos tiramos o PT”.
Ódio de classe, direi para sempre. Ódio velho não cansa.
Aos mais jovens, que não viveram os anos FHC e que acharam que as conquistas da “ERA PT” eram dados “naturais” – que estiveram sempre ali – e só criticavam com virulência, que se juntaram ao coro “fora tudo e todos”, bem-vindos ao Brasil do passado!
Agora o parênteses se fechou e vocês terão a oportunidade incrível de perceber que o que foi vivido em mais de uma década foram, na verdade, muitas conquistas.
Bem-vindo ao passado. “Nada de novo no front”.
Relatos de mais um dia em que a Ciência e a Universidade foram atacadas no Brasil com o anúncio de cortes das bolsas PIBIC-CNPq.
Ana Flávia Cernic Ramos - Doutora em História Social pela Unicamp, professora da Universidade Federal de Uberlândia.
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