O "Estado inchado" é outra das tantas mentiras que, repetidas à exaustão, ganham foros de verdade no Brasil. Os dados mostram que, em comparação com outros países, o funcionalismo público brasileiro é pequeno e a carga tributária é pequena. Apesar dos casos aberrantes amplamente divulgados pela mídia, até mesmo o salário médio do funcionalismo público é pequeno.
O que há são distorções: inchaços localizados da máquina administrativa quando há carências grandes de pessoal em muitos outros lugares, juízes com vencimentos nababescos, uma carga tributária que é muito maior para os pobres do que para os ricos (a porção da renda familiar que é consumida em tributos pelas famílias que ganham mais de 30 salários mínimos mensais é praticamente a metade daquela das famílias com renda de até dois salários mínimos).
A lógica diz que um país com o Brasil, com carências incompatíveis com suas riquezas e um potencial para o desenvolvimento que está longe de ser aproveitado, exige um Estado muito mais robusto. Mas nossas classes dominantes estão mais interessadas em saquear o país e subordinadas a interesses externos que vetam qualquer possibilidade de progresso sustentado no Brasil.
As medidas que o governo Temer anunciou ontem formam um dos maiores ataques ao Brasil em toda a nossa história. Foi determinado que 60 mil vagas não ocupadas ficarão a descoberto. O salário do funcionalismo foi congelado. Na verdade, foi reduzido, com o aumento da contribuição previdenciária para 14%. Novos servidores que venham a ser contratados terão rendimentos reduzidos (em mais uma violação flagrante da regra legal de "salário igual para trabalho igual").
É mais uma rodada da conta do golpe sendo paga - e Meirelles deixa claro, mais uma vez, quem vai pagá-la. Diretamente, é o funcionalismo. Por tabela, todos os cidadãos que usufruem de serviços públicos. Nada de novo sob o sol, portanto.
Ninguém diz que o Estado brasileiro não tem problemas. Os cortes anunciados, porém, só contribuem para agravá-los - o rumo que está apontado é o do sucateamento completo.
Por Luis Felipe Miguel.
Nenhum comentário:
Postar um comentário