O novo mundo das guerras. (Por Ângelo Cavalcante)


Sinceramente, as redes sociais, esse gigantesco, gelatinoso e ainda pouco compreendido, fenômeno de massas e de muita massificação é, de fato, um horror. Mas, venhamos e convenhamos, isso não é necessariamente, novidade; Umberto Eco já denunciou e muito bem o que é esta teia planetária de comunicação e não-comunicação no prodígio de garantir voz para imbecis, alienados e fascistas. 

Grosso modo, por aqui são lançados aos montes, aspectos pitorescos e banais da vida cotidiana; são eventos como viagens, visitas, aspectos da vida privada, instantes fúnebres, encontros, diversões e outros inusitados. Tudo certo... O espantoso é que juntamente com essas trivialidades tenras, prosaicas e até bem simpáticas acontece algo de muito, muito estranho e perigoso nas mesmíssimas redes sociais.

Pois bem, na seara da política é mais do que notório o clássico e insuperável embate esquerda/direita e que não por acaso, está por aqui, massivamente presente. O fato muito intrigante e preocupante respeita ao estrondoso e assustador avanço da militância de ultra-direita por estas amplas redes sociais.

Para o caso do YouTube (YT), cuja "front page" vai se constituindo, se conformando meio que a partir do gosto do cliente ocorre fenômeno muito interessante. Vou tentar descrever, apenas tentar, sem o compromisso de ser ser exitoso... É que é mais ou menos assim: se eu gosto de ouvir mantras indianos pelo YT, sempre que o acesso, lá vai surgir um menu de opções a envolver mantras indianos, rezas e espiritualismos afins. Da mesma forma, sempre que pessoas que, como eu, que se interessam por política buscam esse tema nesta rede, do mesmo acontece. 

O que tenho identificado é que todas as vezes que visualizo o YT pulula na tela do meu computador uma galeria de opções de "tubes", uma pletora de produções de ultra-direita; aliás, produzidos sob encomenda e que servem para, primeiro, atacar de fronte o Partido dos Trabalhadores (PT) e seus quadros; em seguida, lideranças políticas ou intelectuais de esquerda e depois, referências de movimentos sociais como o MST, MTST, UNE ou CUT. 

É impressionante! Tem, por exemplo, para o meu caso, posto que monitoro o quadro da política permanentemente, certa produtora/editora de nome "Verdade Política" que desova incessantemente seus vídeos; normalmente, idiotas, irresponsáveis e de péssima interpretação onde assaca de todas as formas, maneiras e caminhos tudo o que é de esquerda, social ou popular.

E tem outras geradoras desse tipo de conteúdo; são várias, muitas, diversas. O fascistóide "MBL" é campeão na produção dessas peças; o tal do "Vem pra Rua" é outro! E por detrás desses organismos, partidos e organizações de direita como o PSDB, DEM, PTB etc fazem seu papel no processo de desinformar, alienar e massificar os tais dos internautas do país. 

O fato é que, efetivamente, se detecta vasta e eficiente produção fabril destes materiais; sem qualquer escrúpulo, ética ou dignidade. Se mentem, dissimulam ou omitem... Tanto faz... O importante é defecar tudo o que é bobagem! Vai que cola?

A esse respeito, no filme SNOWDEN (2016), dirigido pelo genial Oliver Stone e que conta a história do ex-agente da CIA Edward Snowden que vazou documentos da NSA (National Security Agency), há curioso debate entre o agente sênior Corbin O'Brian (Rhys Ifans) e Snowden (Joseph Gordon-Levitt) onde O'Brian revela que as novas guerras serão travadas, sobretudo, no mundo virtual; onde países irão se envolver em embates silenciosos e planetários justamente nos espectros das redes virtuais na busca, é claro, por poder e hegemonia. 

Espero que a esquerda brasileira, gorda de vacilos, juntamente com seus partidos compreendam a importância de desenvolverem inteligências, táticas e estrategias para essa fundamental e decisiva dimensão da contemporaneidade; que não para de avançar sobre a vida de indivíduos, partidos, empresas, organizações e governos e que, em definitivo... Veio para ficar.

Ângelo Cavalcante - economista, professor da Universidade Estadual de Goiás (UEG), campus Itumbiara.

Por Ângelo Cavalcante.

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