Morreu Luiz e ficou triste a
melodia no dia de hoje. É uma dor que não se sabe quando termina. E ela tem
nome e cor. O nome é a música que com ela nos alegrou durante muito tempo.
Hoje, eu me lembrei de um
momento ao lado do Melodia na cidade de Salvador na Bahia. O ano, acho, foi 1996 ou 1997. Eu estava passando uns dias por lá. Hilton Barbosa, um querido
amigo, tinha um apartamento no Corredor da Vitória, lá no Sol Victoria Marina.
Um aparte hotel interessante. Era a república dos Amigos e sempre que ia a
cidade, Hilton liberava o apartamento, um kitnet.
Naquele dia me aparece por lá, Jorge Papapá acompanhado de Paulo Jorge. Dois dos mais
brilhantes compositores da música baiana. Com composições gravadas por Ivete
Sangalo, Daniela Mercury, Chiclete, Timbalada. Enfim, dezenas de artistas já
foram agraciados com suas poesias. E, mais ou menos, uma hora após estarem no AP,
Papapá recebe uma ligação de Luiz Melodia. Ele informava que estava chegando a
cidade a tarde e que faria um show naquele mesmo dia. Os dois eram grandes
amigos.
Como em um transe artístico,
Papapá decidiu que faríamos, digo faríamos, mas quem fez foi ele e Paulo, uma
feijoada para Melodia. E a maior das coincidências foi que ele se hospedou no
mesmo hotel. Ai já sabem, tudo ficou mais fácil de acontecer. Corremos ao supermercado do Porto da Barra, compramos tudo o que seria usado. Papapá teve a
brilhante ideia de comprar Culhão de Boi como iguaria. E lá fomos nós atrás de
panelas, já que tudo seria feito às escondidas no Kitnet. Lá era proibido ter
fogão.
À tarde, antes de começar a
aprontar a feijoada, o encontramos no restaurante do hotel. Ouvimos muitas
histórias de Melodia e Papapá. Rimos muito com as loucuras que fizeram juntos.
Tudo era festa. Em dado momento, ele se referiu a um de seus filhos, o Mahal.
Disse que estava feliz, pois ele estava cantando em uma Banda de RAP. Eu,
metido a entendido de música, ao ouvir aquilo e lembrando que era um ritmo
americano se apossando da nossa cultura chegando pelo Rio de Janeiro disse, “o
RAP Melodia, é o primo pobre do Repentista Nordestino”. Ele parou, olhou para
mim e eu pensei, devia ter ficado calado. Ele caiu na gargalhada e avisou que
iria falar para o filho sobre isso.
Combinamos que não iríamos ao
show pois precisávamos colocar a feijoada no fogo. E assim foi feito. No AP,
descobrimos que era perigoso ligar aquele fogão de uma boca. Então, o colocamos
no pequeno corredor, entre a porta de entrada e o banheiro. Foi o único local
seguro. Duas horas depois, ninguém aguentava com o cheiro dentro do apartamento
e, não lembro quem foi o gênio, abriu a porta. Quinze minutos depois o gerente
surge na porta e pergunta o que estava acontecendo. Perguntou porque quis, porque o
cheiro, o fogão e aquele caldeirão grande já denunciava tudo. Ele disse que
hóspedes ligaram, não reclamando, mas querendo saber onde tinha feijoada no hotel.
Rimos juntos. Ele só pediu para fecharmos a porta novamente. E foi o que
fizemos.
Já passava da meia noite
quando Melodia ligou informando que tinha chegado. Subimos ao apartamento em
que ele estava. Dez vezes maior que o nosso. Chegamos de caldeirão nas mãos. Paulo
Jorge, que tinha comido quase todos os Culhões de Boi durante o cozimento,
levou um prato com o que sobrou.
Ficamos lá com ele durante uma
hora e meia. Nesse tempo, ele comeu a iguaria, quase sem querer, e se fartou,
assim como todos nós, da feijoada feita com muito carinho e amizade para ele
naquela noite, que ficou gravada em minha memória e que permanecerá. Histórias
lindas e com amigos queridos, eu sempre deixo guardado em um cantinho, para sempre
ir buscar quando for preciso.
Obrigado Papapá, por ter me proporcionado
um dia com Melodia.
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