Exercícios talvez ociosos sobre o futuro próximo.

Soluções (pseudo) constitucionais:

(1) Temer fica. Ele se segura em sua base no Congresso e no apoio de Rodrigo Maia, que, ciente de que seria o próximo a ser comido, rejeita todos os pedidos de impeachment. De alguma maneira, Temer consegue convencer as classes dominantes de que é melhor ficar com ele, apesar do desgaste, do que enfrentar outras turbulências. É nisso que o próprio Temer está apostando, como mostra a nota - absolutamente protocolar - de desmentido das denúncias que ele lançou agora de noite. É o desmentido de quem aposta num jogo de cena, de quem aposta que vai haver consequência zero, como em todas as outras vezes em que ele foi citado em casos de corrupção. O resultado líquido dessa solução é a desmoralização absoluta do sistema político brasileiro. Torna ainda mais escandalosa a eventual condenação de Lula e destrói de vez as chances de eventuais candidatos ligados ao núcleo do governo (PMDB-PSDB). A realização das eleições de 2018 fica incerta.

(2) Temer sai. Rodrigo Maia conduz uma eleição indireta, em que parlamentares que não dispõem de nenhuma credibilidade popular escolhem alguém que seja capaz tanto de posar de sério quanto de manter a bandalheira; ou seja, alguém como FHC ou Jobim. O novo governo será naturalmente "de salvação nacional" e se arrastará pelo restante do mandato que era de Dilma. As "reformas" serão retomadas em ritmo acelerado, para não ser desperdiçada a janela de oportunidade que o golpe criou. O resultado líquido dessa solução é a desmoralização absoluta do sistema político brasileiro. Torna ainda mais escandalosa a eventual condenação de Lula e destrói de vez as chances de eventuais candidatos ligados ao núcleo do governo (PMDB-PSDB). A realização das eleições de 2018 fica incerta.

(3) Temer nem sai nem fica. Inventa-se um parlamentarismo de ocasião. Arranja-se um primeiro-ministro qualquer, um parlamentar pouco expressivo e pouco visado, que fique feliz com o cargo e não atrapalhe, tipo um Cristovam Buarque, e os oligarcas dos partidos passam a controlar diretamente o festim. O resultado líquido dessa solução é a desmoralização absoluta do sistema político brasileiro, mas, pelo menos por algum tempo, não precisam se preocupar com eleições presidenciais.

Outras soluções:

(4) Temer cai e é seguido por Rodrigo Maia e Eunício Oliveira. Cármen Lúcia assume a presidência. Uma vez que o Congresso não tem autoridade moral para escolher um novo presidente, ela fica com o cargo. Assim, o Judiciário se dá a tarefa de limpar a política brasileira, convenientemente poupando a si próprio. A única maneira de buscar apoio para esse projeto é adotando um discurso altamente antipolítico, conservador e autoritário. Cármen Lúcia, portanto, é a pessoa certa para a função.

(5) A bagunça é percebida como tão intratável que é feito o tradicional apelo aos militares. Um golpe clássico é desferido e uma junta toma o poder, para promover a tal limpeza do Brasil. Por tempo limitado, claro, só até o fim de 2018, quem sabe um pouquinho mais...

Qualquer um desses cenários inclui aumento da repressão política  e vigência ainda mais incerta das liberdades. Penso que, no momento, essa deve ser a preocupação central das forças populares: proteger os direitos, as liberdades e a esperança de retorno da democracia.

Não creio que seja realista pensar em uma anulação do golpe e retorno da presidente legítima ao poder. Nesse momento, talvez a bandeira deva ser a convocação de eleições gerais, que é simples, tem apelo e retira a decisão do âmbito exclusivo das elites.

Por Luis Felipe Miguel( Cientista Político/ UnB).

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