Nasci no meio do nada, não tinha nada a minha volta, só mato, passava um ônibus de manhã que fazia esse bate-e-volta monótono a semana inteira apenas uma vez por dia carregando as pessoas daquele lugar meio esquecido por deus.
Meu parto foi feito por uma negra velha das reminiscências de um quilombo de outrora que serviu de assistente de um farmacêutico que tinha curso de parteiro mas que segundo dizem tinha pavor de sangue, talvez por isso tenha eu guardado apenas o nome da parteira, dona Rufina.
Isso era o interior do Rio de Janeiro e o ano era 1963 , mais precisamente no mês de agosto, o mês considerado dos desgostos. Enquanto eu nascia naquele sertão perdido ali nem tão longe Brizola enfrentava como um Quixote moderno algo mais ameaçador que moinhos, porém com o mesmo ímpeto do velho sonhador.
Um ano depois tudo vinha abaixo e eu carrego comigo além do peso de ser filho de imigrantes o fato de ter o perfil cronológico do golpe militar, claro só fui saber disso muito depois porém mais precocemente que a maioria dos da minha idade, lá em casa a política acaba entrando cedo na vida da gente apesar de não ser recomendável para uma família inteira de imigrantes se meter nesse assunto.
Levei anos para ver a luz elétrica, mais alguns anos para ver a "magia" da televisão, um quadrado mágico em preto e branco que levava alguns minutos para aparecer a imagem num telão de 20 polegadas e alcançando todos os canais disponíveis que se resumiam a três e sendo um com uma imagem indecifrável mas que nada que a vista e a boa vontade de um moleque de seis anos não superasse.
Passei a minha infância pobre e feliz aprendendo a escrever e fazer contas na ponta do lápis, aprender matemática numa tabuada que custava 50 centavos e tinha um desenho indefectível de uma professora na capa que eu não gostava muito por ser preta e vermelha, pois é verdade, uma das primeiras coisas que aprendi foi a torcer pelo Fluminense.
Saí da infância e entrei na adolescência da mesma forma, as coisas mudavam pouco naquela época, tudo que vemos hoje a nossa volta até os meus quase 15 anos não passava de frutos de ficção científica, lembro de ter ficado horas brincando com uma calculadora do meu irmão mais velho, afinal aquilo para mim era pura magia , quase bruxaria.
Só dei essa esplanada para fazer uma viagem, ou como de diz hoje, um link direto de meados da década de 70 para hoje e constatar admirado as facilidades, a informação fácil, gratuita, instantânea, tudo a mão, qualquer pergunta com resposta imediata, sem dúvidas, sem margem de erros, ninguém precisa pesquisar três livros para saber em que ano Cleópatra morreu.
Hoje além do ano da morte dela ainda vem junto o atestado de óbito e se bobear a capa da revista de "caras" da época com todo o babado e a repercussão do caso, e na dúvida o site de informação ainda te sugere mais uma meia dúzia de outras publicações para assim você tirar qualquer dúvida sobre o assunto e suas consequências.
E com tudo isso, com toda essa facilidade, com toda essa ficção cientifica que virou realidade a sociedade só tem produzido................burros, jumentos, dementes, idiotas, indivíduos sem caráter, verdadeiros marginais intelectuais, fraudadores, mentirosos e canalhas.
A tecnologia que prometeu - e cumpriu - a missão de democratizar a informação, de dar livre e amplo acesso a informação ao invés de transformar qualquer idiota em um cara de conhecimento admirável pelo visto apenas transformou o idiota em um mau caráter, um canalha que a ignorância de outrora mantinha cativo.
O acesso a informação não melhorou ninguém, quem era ruim ficou pior e quem tinha um caráter dúbio optou também pela canalhice, ficando na resistência apenas o mesmo cidadão que adquiria cultura e discernimento por meios tradicionais e centenários e com a agravante que hoje os tolos graças a esse acesso imenso a informação alçaram um grau de periculosidade jamais visto ou alcançado.
O velho ditado que no fim os idiotas vencerão não por serem os melhores mas por serem muitos só será possível graças a essa tecnologia da informação que ao invés de transformar o idiota em algo útil transforma esse mesmo idiota num imbecil totalitário, desonesto intelectual e que carrega consigo todas as falhas e defeitos de caráter da história.
Antes ele não vivia o suficiente para adquirir tanta canalhice, hoje recebe direto na veia, nunca foi tão fácil criar um fascista , um canalha e faze-los proliferar como cupins numa madeira podre. No final a tecnologia nos levará a ruína pelo seu uso e a sua aplicação, nenhum inteligente ficou mais inteligente com a sua aparição mas os burros prosperaram geometricamente...
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