Tá na internet: CIDADE É LUTA DE CLASSES!” (Por Ermínia Maricato)


A gente vive a cidade todos os dias e o dia todo, todos os habitantes. E, no entanto, são muito pouco conhecidas as forças que dominam e controlam as cidades. Porque a cidade, além de ser uma espécie de palco onde a nossa vida se passa, além de ser um local de disputas e de movimentos sociais, além de poder ser lida como se fosse um discurso, a cidade é uma mercadoria. E alguns capitais específicos ganham muito dinheiro com a cidade. Por exemplo, a segregação espacial é necessária para o mercado imobiliário altamente especulativo. O mix de renda ajuda a controlar e equilibrar o preço do solo. A segregação leva à explosão do preço do solo, portanto da renda imobiliária, da valorização imobiliária, que faz a riqueza de muitos capitais. A incorporação imobiliária, o capital financeiro imobiliário, o capital de construção pesada, o capital de construção de edificações e o proprietário da terra são os principais atores que exploram as cidades: exploram os negócios das cidades. A cidade é um negócio por excelência capitalista. Cada pedaço da cidade, cada edifício, cada infraestrutura é uma mercadoria especial porque está ligada ao solo, ligado à terra, que é uma mercadoria não reproduzível. Então, é complexa esta questão, mas ao mesmo tempo ela é central na vida da maior parte da população brasileira. E ela é desconhecida, muitas vezes até pelos próprios economistas, geógrafos, urbanistas, que trabalham com uma legislação geral em o modelo que tem na cabeça é um modelo em que a lei de uso e ocupação do solo é seguida pela cidade toda. O que não acontece no capitalismo periférico. Então, nós trabalhamos com o modelo que não é o modelo real, vigente na nossa sociedade. Por isso que é necessário combater o analfabetismo urbanístico. É necessário que a gente compreenda, entenda o que é a luta cotidiana pela cidade, pelo direito à cidade. Inclusive os operários precisam entender que cidade é luta de classes. Que eles podem, por exemplo, conquistar um aumento de salário e este aumento de salário ser levado pelo aumento dos transportes. Eles podem conquistar uma moradia numa localização que é extremamente cara, porque ela não tem perto dela todos os serviços que a moradia urbana precisa. Não tem, por exemplo, a fonte de trabalho, de emprego. Não tem, por exemplo, serviços de educação e saúde. Não tem parques. Não tem transportes acessíveis e públicos. Então, a vida do operário, a luta do operário não é apenas por condição de trabalho e salário. É também por condições de vida urbana.


Por Ermínia Maricato.

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