Corre que a policia vem ai

Desde muito jovem que eu me meti a militar na política. E vivi muitas histórias que gostaria de compartilhar com vocês. Uma dessas foi quando um grupo de estudantes de Paulo Afonso na Bahia foi a capital do estado, para participar de uma reunião onde se discutiria a reconstrução da Ubes – União Nacional dos Estudantes Secundaristas. Que só anos depois aconteceu na cidade de Campinas em São Paulo. Mas isso é outra aventura que contarei outro dia. Por enquanto vamos ficar com essa de Salvador.

Éramos quatro, os desbravadores do movimento estudantil naquela época, a estarmos na Rua Carlos Gomes, na sede do sindicato dos bancários. Nós tínhamos chegado durante a manhã e fomos informados de que só a noite aconteceria o encontro. Durante o dia fomos a praia, e já lá eu percebi que uma daquelas pessoas que tinham ido comigo precisaria de uma maior atenção. A primeira situação inusitada foi durante a tarde quando ele no Corredor da Vitória parou no meio da rua e ficou olhando para os prédios, impressionado com o tamanho deles. Ai eu fiquei sabendo que aquela era a primeira vez que ele tinha saído de Paulo Afonso. E logo para a capital e em plena ditadura.

Quando chegamos a reunião, que foi marcada para às 10h da noite, para fugir da policia. Já que naqueles dias, qualquer encontro de estudantes, era considerado subversão. Nossa presença parece ter incomodado alguns dos organizadores. Já na primeira votação, que definiria quem iria representar o estado no encontro nacional, uma daquelas pessoas que estava no comando, fez uma proposta maluca. O voto dos representantes da capital deveria valer por dois e os das pessoas que moram no interior, valeria um único voto. Assim, a presença daqueles que se deslocaram centenas de quilômetros estavam sendo considerada, de pessoas de segunda classe. Claro que eu não aceitaria aquilo e coloquei isso claramente. A proposta do pessoal da capital foi flagorosamente derrotada.

A hora já estava passando da meia noite quando alguém avisou que dois carros estavam rondando a rua. Eles já tinham passado umas três vezes em frente do prédio do sindicato. E os coordenadores acharam melhor acabar a reunião. O clima era tenso naquele momento. Foi quando nós descemos a escadaria que dava a rua e vi o meu amigo, mais uma vez no meio da pista. O medo de que algo pudesse acontecer era muito grande.

Alguém gritou, “lá vem o carro”. Alguns correram em direção as ruas transversais. E outros, como eu, voltamos para dentro da sede do sindicato. E o danado daquele matuto ficou na rua sozinho. O carro, com três homens dentro parou ao lado dele. Por instantes achei que algo de ruim iria acontecer. Mas o que aconteceu mesmo foi que meu amigo foi em direção ao automóvel e perguntou o que o pessoal queria. Ele não tinha a menor idéia do que estava acontecendo ali. O homem que estava no banco do carona olhou como se não acreditasse e riu. E para piorar a situação. Porque sempre pode piorar. O Matuto meteu a mão na cintura e puxou um pente e começou a passar nos cabelos. Naquele momento, eu e mais algumas pessoas que estamos morrendo de medo, fomos ate eles. O carro saiu em disparada e ficamos rindo, nos achando os maiores revolucionários daqueles dias. Nem bem tínhamos terminado as primeiras frases demonstrando a nossa coragem e ouvimos as sirenes dos caros de policias vindo da Praça Castro Alves.

Nem precisa dizer a vocês o que aconteceu? Ta bom vou contar.

Só me lembro de ter saído correndo em direção a muitos daqueles que iam a minha frente. E de termos parado em uma Rua no Bairro Da Graça, a quilometros de distância. E tivemos que dormir em um apartamento por lá. Não sem antes ainda ter que intervir para que o danado do matuto não levasse uma surra dos companheiros, enquanto ele me perguntava o que tinha feito de errado.

Dimas Roque.

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