O Circo continua em meus pensamentos.

Na minha infância, os dias mais felizes eram quando chegava um circo na cidade onde moro. Eu gostava dos que tinham grandes atrações e vinham com elefantes, tigres, leões, globo da morte e muito mais. Mas a imagem que ficou em minha mente, dentre tantas daqueles tempos, são as dos pequenos circos. Nestes os palhaços eram os melhores. Eles sabiam como nos fazer cair em gargalhadas.

Foi nessa época que tive os primeiros contatos com o teatro. Nos circos mais paupérrimos, eles traziam em suas programações peças de teatro. Talvez para suprir a deficiência que tinham para adquirir animais para nos entreter.

Eu me lembro de um circo que foi armado aqui perto de casa, na Avenida Contorno. Naquela época só existiam casas de um dos lados da via. De tão remoto é o tempo em que ele esteve. E foi durante uma das cessões do circo que foi apresentada um texto para teatro onde mostrava o amor entre dois jovens. A atriz, dela eu me lembro bem, era uma bela morena. Ate hoje eu me lembro dela no canto esquerdo do palco chorando baixinho.

Naquela noite caiu um temporal muito grande na cidade. E dentro do circo, as poucas pessoas que estavam na platéia, puderam perceber que a lona tinha mais furo que tabua de pirulito. A sensação era a de que, toda aquela chuva cai mesmo era em nossas cabeças.

A apresentação teatral já tinha começado quando aquela chuva caiu. Não tinha se passado mais do que uns 15 minutos. E como a chuva não diminuía um senhor subiu ao palco durante a apresentação e disse que ela não iria prosseguir ate que aquela água não parasse de cair.

Foi neste momento que, a alegria nos rostos dos atores, desapareceu. Ela foi trocada por um sentimento de incredulidade, entre os atores e a pequena platéia. Os atores conversam baixinho entre eles. Nós chegamos ate o palco para tentar ouvir o que eles falavam, mas não dava para escutar.

Enquanto algumas pessoas reclamam da suspensão da apresentação, eu vi aquela morena no fundo do palco com lagrimas nos olhos. Ela tentava esconder o rosto com as mãos. Ela estava com vergonha de tudo aquilo que estava acontecendo. O ator que representava com ela foi ao seu encontro. E foi neste momento que eu me aproximei deles, pela lateral do palco. Eu tentava saber o porquê daquele choro tão contido. E ouvi uma voz quase inaudível, dizendo que, chorava porque não conseguiria mostrar o seu talento para as pessoas que ali estavam.

Aquele choro me corta o coração ate hoje. Ainda lembro-me do rosto daquela garota com lagrimas nos olhos, chorando porque não conseguiria se apresentar. Não conseguiria ser a atriz que ela carregava em seu peito. Aquela jovem chorava porque diante dela, havia o sonho de todos os artistas. Havia um publico a quem queria mostrar o seu trabalho. Mesmo que em um pequeno circo a rodar o interior do Brasil. E estas atrizes ainda andam pelas pequenas cidades do nordeste ate hoje.

Nenhum comentário: