MINHA "NÃO AMIGA" DA PELE DE VELUDO (DO LIVRO: QUANDO O AMOR INCOMODA)


Imagem ilustrativa

Eu ainda me lembro do dia em que a vi pela primeira vez. Fui buscar um livro na biblioteca da escola e lá estava ela sentada em um banco no canto da sala. Parecia que estava assustada com tanta movimentação, de pessoas indo e vindo na busca de pegar livros para terminar os trabalhos que eram solicitados pelos professores. Os seus cabelos estavam amarrados por uma daquelas ligas que toda garota gosta de ter. Sempre é a cor da moda e a dela era amarela com branco. Sua blusa do colégio estava impecável. Ela me despertou um carinho grande. Andei entre aquele amontoado de livros e revistas postos nas prateleiras e sempre que passava por perto daquele rosto de criança, eu a olhava com muito carinho. Depois de umas idas e vindas e sem encontrar o que buscava, perguntei se ela sabia onde encontrar algo sobre a história da Bahia. Foi o bastante para perceber que aquela menina estava envergonhada com minha iniciativa. Percebendo isso peguei o que eu queria e sai dali, não sem antes dar uma olhada para trás e ver que os olhos daquela menina buscavam os meus passos.

Parecia uma obrigação de aluno. Ou que eu era naqueles dias o mais aplicado aluno da escola. Todos os dias eu estava lá, buscando um livro. Muitos foram os dias que a encontrei naquele mesmo canto e não tive coragem de tomar a iniciativa de dizer que a admirava.

Já nos anos seguintes, percebi uma mudança naquela menina. Ao me dirigir a ela e pedir informações, recebia automaticamente e agora já com sorrisos no rosto de quem podia me passar a indicação sem medo. Devo estar enganado, mas acho que foi naquela época que ela deixou de ser uma criança. A minha menina linda da pele de veludo já não era mais a garotinha que eu tinha conhecido anos atrás. A transformação dela em mulher era aparente e me doía dentro do peito. Era uma dor insuportável, daqueles que só quem ama sabe o que estou falando. Eu tinha perdido o meu amor. A pessoa a quem mais dediquei meus sentimentos quando criança.

Segui minha vida e encontrei outras garotas. Amei e fui amado. Ao menos elas diziam isso.

Um dia a encontrei em um restaurante. Lá estava ela, linda como sempre. Não me aproximei. Acho que ela nem lembrava mais de mim. Sua vida deve ter mudado. Aquela garota que vi se transformar ao longo dos dias, agora estava distante de mim. Ela ficou inalcançável.

Depois desse encontro que já fazia anos. Nem lembro mesmo da data. Recebi em meu computador um pedido de alguém que queria falar comigo no MSN, aquele programa de comunicação instantânea utilizada por boa parte das pessoas no mundo. Não sabia quem era e como nunca rejeitei nenhum pedido, apertei a tecla de aceito. A surpresa foi que naquele dia vi uma foto dela na tela do comunicador. Fiquei tremulo. Não sabia o que fazer diante daquela situação. Foram varias as perguntas a transformarem minha cabeça em um vulcão de pensamentos. Ela não apareceu e muitos foram os dias que a esperei para um primeiro contato. Eu já não tinha mais esperança de que pudéssemos conversar, mesmo que virtualmente.

Era noite quando entrei na internet. Não percebi que tinha alguém a mais ao vivo naquele momento. Minutos depois, eu recebi uma solicitação de informação. Juro a você, caro leitor que me acompanha desde as primeiras páginas deste livro, não sabia de quem era. Alguém queria saber onde encontrar um site com notícias da região. Disse o endereço da página e continuei lendo os blogs que acompanho sempre. Na sua maioria, com dados sobre a política. Uma nova pergunta me chegou. Só ai eu parei para ver quem tanto chamava a minha atenção. Meu coração bateu descompassado me remetendo aos tempos de criança quando na escola todos os dias eu ia ver aquela menina. Era ela, diante de mim, na tela do meu computador. Respondi a ela, dando a informação que me pedirá e nada, além disso. Estava paralisado e sem saber como me comportar. Ela agradeceu e saiu. Foram minutos intermináveis para os meus olhos. Eu ainda tenho comigo uma pequena anotação que recebi daquela, já garota, no último ano da escola. E foi onde tentei encontrar algo para me confortar. Eu poderia ter puxado mais assunto com ela. Não sabia que a encontraria uma outra vez. E se ela sumisse novamente. Resolvi que se em um outro momento ela surgisse diante da tela do meu computador, iria falar pelos cotovelos, só para estar mais perto dela. Do meu amor.

Alguns dias depois eu a vi pilotando uma moto nas ruas da cidade onde moro ate hoje. Não conheço ninguém que também a conheça, para buscar alguma indicação de que ela tenha voltado definitivamente. Não sabia nem se ela tinha ido a algum lugar. Eu tinha perdido completamente o contato com ela. Será que ela estava namorando? Teria casado? Será que já estava com filhos?

Numa quarta-feira, dia de jogo do Esporte Clube Bahia, ela surgiu novamente perguntando o que eu estava fazendo naquele momento. Começamos a mandar mensagens de textos um para o outro. Isso durou quase que uma noite inteira. Às horas se passaram sem que tenha percebido que o sol já surgia com seus belos raios, iluminando a terra. Era hora de deitar o corpo cansado e ir à empresa. Cada dia que nos encontrávamos na internet, era uma festa de carinhos e palavras ácidas. De ambas as partes. Quero dizer que as que eu proferi foram sempre para chamar a atenção daquela menina linda da pele de veludo que eu amei quando criança e que hoje é mulher e me disse que ama o seu namorado. Ela faz questão de colocar uma foto onde os dois estão abraçados. Não sabe ela, e não vou dizer nunca, que aquilo me deixa triste. Não que eu ainda a ame, mas é que meu coração ainda lembra daqueles belos dias que eu pedia informações aquela criança sentada naquele banquinho da escola.

Hoje somos bons “não amigos” e seguimos as nossas vidas, juntos virtualmente e separados na real. Vá entender essas coisa de coração.

Um comentário:

Anônimo disse...

Amei!!!!!!!!!!!