FRENTE A FRENTE COM ELA (Do livro. Quando o Amor Incomoda)



Eu ficava inebriado ao ver aquele corpo diante de mim por horas. Sentada naquela cadeira, muitas vezes sem fazer nem um movimento, só os seus olhos esboçava um movimento quando parecia me buscar algo a sua frente. Foram dias maravilhosos aqueles que passamos juntos naquelas noites frias. Ela nunca deixou que eu a tocasse, mas isso nunca foi um empecilho para o nosso amor. Se não a tinha em meus braços, com seu corpo colado ao meu. Era certo que outro também não a possuía naquelas horas que vivíamos um para o outro.

Havia dias que eu não suportava aquela distancia entre nós, mesmo estando tão perto dela.

Teve dias que pensei em ir em sua direção, mas o medo da reação dela impedia que isto se concretizasse. Tínhamos um acordo silencioso. Cada um sabia o seu lugar.

No dia em que ela ficou diante de mim, mas uma vês naquela cadeira, com os cabelos soltos ate o ombro, com um fone no ouvido e se balançando ao som de uma música que nunca soube qual era, eu pensei que ela brincava com meus sentimentos. Enquanto eu fazia de tudo para chamar a sua atenção e sem ter êxito algum. Via seus lábios em movimento, pensei que ela queria falar algo. Mas não era verdade. Ela continuava lá e eu cá no meu lugar.

Às vezes tinha medo de estar ali, só eu e ela dentro de um quarto em sua casa. Era ela que me convidava e eu sempre fui. Gostava da decoração simples. Ela era avessa a coisas que chamasse muito a atenção, por isso a cor das paredes era branca e dentro tinha um pequeno guarda roupa que era utilizado também para guardar seus perfumes. Seu cheiro era inconfundível e exalava por todo o espaço. No canto direito ficava uma pequena mesa onde se podiam ver livros, revistas e uma blusa em tom de cinza com listras brancas. Ela sempre me colocava sentado do lado esquerdo. La tinha uma mesa, mas isso nunca foi um problema. Eu sempre me comportava e ficava a olhar seu rosto lindo e seu corpo embaixo daquela claridade que a luz proporcionava. A cadeira ficava por trás da mesa. Era uma forma de ela me manter distante do seu corpo, de uma proximidade mais comprometedora.

Eu sempre me preocupei com a chegada de alguém ali. E se entrasse uma pessoa e nos descobrisse? Provavelmente iria perguntar quem seria o homem diante dela. E o que ela responderia? Esses medos sempre me ocorreram em todos os nossos encontros naquelas noites em que nos amamos.

Você deve estar se perguntando como eu consegui viver tanto tempo com uma mulher dessa forma? Você não é o único. Um dia eu pensei em não mais aceitar os convites dela para estarmos juntinhos, mas você vai entender que eu não tinha forças diante daquela linda mulher em minha frente.

Eu sabia muito da vida dela e ela nunca me perguntou nada da minha. Me aceitava da forma que sou. Acho que era isso que a deixava mais compenetrada olhando para mim. Ela parecia alguém que queria desvendar os meus segredos simplesmente olhando. Nunca a perguntei se teria conseguido perceber algo de importante em mim.

Em um desses dias ela me pedia para ir embora de sua vida. Foi um choque muito grande para mim. Ainda tentei saber o que teria acontecido. O que teria feito de tão errado naquele dia, mas ela preferiu não me responder e a toda pergunta que eu fazia, ela sempre me mandava embora. As palavras me feriam e a dor era tão grande que teve dias que não conseguia suportar e caia em prantos. Claro que antes eu saia dali.

Não vejo aquela mulher já faz meses. Nunca mais recebi um chamado dela para estarmos juntos, um diante do outro. Não me importo de estar aqui na minha cadeira e ela lá na dela. As telas dos nossos computadores nos aproximavam e a WebCan nos mantinha juntinhos. Eu a via diante dos meus olhos sorrindo, brava, moleca, uma criança...

Naquele dia em que ela desligou o computador, tive a certeza de que não mais a veria diante dos meus olhos. E hoje vivo sozinho. Não quero mais ninguém para amar. Ate o fim da vida vou ficar aqui esperando ela voltar.

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