Hoje eu não quero falar de pandemia do Coronavírus por que
já estou entediado de ver o que os telejornais fazem para nos manipularem, uns
divulgam informações favoráveis ao governo federal porque o apoia; outro
divulga, insistentemente, informações contra o governo porque este o ameaça em
não renovar sua concessão e não gasta verba federal com publicidade em sua rede
de televisão e jornal como os governos anteriores fizeram.
Todo dia, o dia
todo o que vemos é um amontoado de desinformação travada pela imprensa enquanto
milhares de brasileiros estão morrendo de acidentes de moto, de infarto,
assassinatos e de tantas outras causas, e os governantes e a imprensa faz de
conta que só se morre de Covid-19. Os hospitais estão cheios de mortos de
causas diversas e sendo computadas como Covid-19 porque virou um grande negocio
para governadores e prefeitos. Não estou negando as mortes pelo Covid-19.
Hoje decidi não
falar mais nisso porque estou enojado das opiniões veiculadas na imprensa pelos
especialistas(?) em Covid-19 que, como os políticos, estão defendendo posições
de interesses econômicos e da grande indústria de remédios em detrimento da
saúde daqueles que estão sendo acometidos pelo Covid-19 e sendo levados ao
abatedouro, como gado, por falta de um tratamento prático, barato, más que não
é do interesse de quem está ganhando dinheiro com isso. O sistema que domina o
mercado da saúde é muito forte e não aceita soluções baratas, eles não estão
preocupados com a saúde do povo, só com seus ganhos financeiros e os políticos
sabem perfeitamente disso. Por isso fazem o jogo deles, porque são vis e
hipócritas.
Só que descobri
que no Brasil tem outros hipócritas, demagogos e oportunistas, assim como os
políticos, que foi preciso um negro americano, George Floyd, ser asfixiado até
a morte para que nossa imprensa e parte de uma elite brasileira acordasse para
a questão da discriminação racial e do racismo naquele país, como se este fosse
só um problema americano e não nosso. Infelizmente meia dúzia de brancos e
pretos socialmente de bem com a vida, como alguns artistas, atletas, políticos,
jornalistas, influencers, youtubers e outros menos cotados, resolveram sair de
sua bolha, de sua zona de conforto de onde vivem, longe da população
periférica, para se manifestarem através das redes sociais e na imprensa, pela
morte do americano. Se solidarizar com a morte de preto americano é legal, pega
bem na fita, melhora sua imagem junto a seus admiradores, na mídia
internacional e quem sabe até rende umas trinta moedas com a repercussão em
seus canais de youtuber e instagram.
A morte de Floyd é
mais umas das atrocidades, brutalidades e crimes cometidos por policiais contra
negros americanos, só que aqui no Brasil não é diferente, é pior e a violência
cometida por policiais e a sociedade branca contra nossos pretos é
terrivelmente maior e ninguém parece ligar para isso, nem a imprensa e nem os
brancos e negros privilegiados(artistas) que agora gritam “Black Live
Matters”(Vidas Negras Importam) e fazem
manifestações nas redes sociais pensando em salvar suas almas de irem para o
inferno. Não salvarão.
No dia 18 de maio,
as 13horas, João Pedro Matos, 14 anos(iria completar 15 dia 23 de junho),
criança negra, foi assassinado dentro de
sua casa, com um tiro nas costas numa favela de São Gonçalo(RJ)durante uma
intervenção policial. Dia 02 de junho, Miguel Otávio Santana da Silva, cinco
anos, criança negra, caiu do nono andar do prédio Pier Maurício de Nassau em
Recife, possivelmente por negligencia de Sari Gaspar Corte Real, patroa de
Mirtes Renata Souza mãe de Miguel, que estava incumbida da proteção do garoto
enquanto Mirtes saia para levar o cachorro da patroa para passear. Interessante
que o nome de Sari, que é mulher do prefeito Sérgio Hacker(PSB), do município
de Tamandaré(PE), não foi divulgado pela Policia Civil de Pernambuco, que
alegou cumprir a Lei de Abuso de Autoridade, que impede agentes públicos de
divulgar nomes e imagens de pessoas investigadas(?). O delegado Ramon Teixeira,
responsável pelas investigações, informou que recebeu ordem da direção da
Polícia Civil em não divulgar o nome da investigada, e “se ater aos fatos da
investigação”. O que todos sabemos é que
se o caso fosse contrário e a mãe de Miguel fosse responsável pela morte do filho
de Sari, esse cumprimento da Lei de Abuso de Autoridade certamente não seria
aventado, muito menos cumprido, e com certeza a foto e nome da senhora Mirtes
seriam estampadas nos jornais com ela sendo levada dentro de um camburão para
uma penitenciária, sem direito a fiança, até porque não teria dinheiro para
pagar.
No Brasil a cada
25 minutos morre uma criança negra. Elas estão sendo dizimadas de forma
indiscriminada, ante o olhar benevolente das autoridades, das instituições
responsáveis em coibir tais crimes e da sociedade que não se manifesta contra
essa violência. Em 2018 elegemos um presidente com perfil violento, racista e
que deu á direção da Fundação Cultural Palmares, órgão de promoção da cultura
afro-brasileira, a Sérgio Camargo, negro, que sistematicamente vem a público
fazer declarações que vão de encontro ao que preconiza a fundação com se não
soubesse delas. Esta semana, numa reunião que tratou do desaparecimento do
celular corporativo de Camargo, quando questionado sobre quem poderia ter pego
o aparelho ele respondeu: “Qualquer um... quem poderia? Alguém que quer me
prejudicar com ajuda de funcionários daqui. O movimento negro, os vagabundos do
movimento negro, essa escória maldita”. Sobre Zumbi dos Palmares ele fez o
seguinte comentário: “Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que pra mim era
um filho da puta que escravizava pretos”. Este é o único negro no governo
Bolsonaro. Lastimável.
Infelizmente
depois de 132 anos da abolição da escravatura no Brasil os resquícios da
escravidão, do preconceito racial e do racismo ainda é crível, evidente e sem
subterfúgios; pretos estão relegados a um plano inferior em nossa sociedade e
os governantes (todos eles), empresários e a elite dominante branca, não tem
interesse em mudar esta situação. Pretos para eles é um ser inferior e
desprezível que não estão aptos para ocupar cargos de direção nas grandes
empresas ou no primeiro escalão de seus governos, como fazem Bolsonaro,
governadores e prefeitos das capitais, este é um sistema excludente que
prioriza os melhores cargos aos brancos em detrimento da maioria negra, que
vota neles.
Só para ter uma
ideia de como eles fazem para ter o controle do sistema mantendo os negros fora
do comando das organizações e instituições do Estado, quando se deu a formação
do exército brasileiro, após a Guerra do Paraguai (1864/1870), os soldados eram
majoritariamente composta de negros, cerca de 2,5 milhões de escravos, quando a
guerra acabou, eles não chegavam a 1.5 milhão, em apenas seis anos
desapareceram 1 milhão de negros que foram usados como bucha de canhão. A
partir dai começou um processo de arianização e embranquecimento do povo
brasileiro onde os representantes das classes dominantes foram assumindo o
protagonismo do poder econômico/social á época e aos negros foram relegados aos
trabalhos escravo, mesmo com o fim da escravidão, no dia 13 de maio de 1888.
As mortes de João
Pedro e Miguel não serão as últimas e estamos longe de fazer a revolução
necessária para por fim a séculos de dominação, exploração e opressão de uma
classe dominante que tira dos negros à possibilidade de libertação não
permitindo seu acesso a uma boa educação e a ter uma qualidade de vida com
dignidade. O sistema é perverso, ainda escravagista (moderno) e não vai abrir
mão desse seu privilegio enquanto negros, pardos, mulatos e indígenas disserem
não. Como disse hoje(05/06 numa entrevista ao UOL) Joselito Crispim, que atua
no movimento contra a desigualdade social e racial na favela Solar do Unhão, em
Salvador: “Lá, nos EUA, eles não brigam só por Floyd, mas pela saúde, segurança
e infraestrutura. Agora se essa faísca se acender no Brasil... se índios e
negros saírem às ruas para lutar por direitos, o sistema cai”. Ele fez a
afirmação baseado na população brasileira, onde pretos, pardos e índios fazem
parte de 64% da população(IBGE,2015) “Seria o fim da sociedade como a
conhecemos”, conclui ele.
Mas para que está mudança aconteça e não tenhamos mais
pessoas como João, Miguel, Agatha e outros tantos negros de nossa periferia
sendo dizimados por controladores do sistema, precisamos acabar com o fosso da
desigualdade educacional e cultural que separa a classe dominante do povo e faz
dessa imensa maioria, um monte de gente sem discernimento, que não entende que
está sendo usado como bucha de canhão em uma guerra onde somente à elite
dominante ganha. É disso que quero falar hoje, falar de liberdade,
oportunidades, inclusão política, social, econômica; das decisões de dentro do
poder do Estado, das organizações, e é disso que quero que vocês também falem,
façam repercutir pra que possamos empatar este jogo que há séculos estamos
perdendo.
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