FOME (Por Carlos D'Incão)


Quando uma pessoa passa fome seu corpo começa a atravessar por um lento e doloroso processo de degradação. Uma pessoa rica, gorda e com boa massa muscular pode continuar viva por 40 a 50 dias. 

Acontece que a fome - salvo casos muito excepcionais - não aflige pessoas ricas, mas sim pessoas pobres... e essas pessoas não possuem gordura e massa muscular de sobra... esses sobrevivem no máximo 20 dias. Uma criança pobre morre bem mais rápido... de 9 a 12 dias...


De uma forma ou de outra, é importante salientar que a dor da fome é considerada uma das mais fortes e não existe qualquer mecanismo cerebral para aliviar a mesma (o que ocorre com outras dores crônicas). 

Ao contrário, a fome aciona mecanismos no cérebro para intensificar a sua dor para que o faminto procure qualquer alimento. Esse fato faz da morte pela inanição uma das mais cruéis, senão a pior forma de se morrer. 

Após esgotar as reservas energéticas do corpo, o estado da fome leva a uma lenta falência dos órgãos que termina em um processo de autofagia, com o organismo tentando se auto consumir por completo. 

O último gesto de quem morre de fome é cobrir o seu próprio rosto, geralmente em prantos. Esse gesto pode muito bem simbolizar a vergonha de um mundo onde quase 1 bilhão de pessoas passa fome ao mesmo tempo que nos países mais ricos o grande problema de saúde é a obesidade. 

No Brasil pós golpe (2016) a fome voltou de forma avassaladora. Hoje estima-se que 15 pessoas morram de fome por dia, em sua maior parte crianças e idosos. 

Em 2019 o Brasil caminha para bater vergonhosos recordes de um problema que apenas existe pela desigualdade na distribuição de renda, pela ausência de políticas públicas e pela insensibilidade da própria sociedade. 

Por essas razões é preciso mensurar de forma adequada a afirmação de Bolsonaro quando o mesmo diz que a fome “é uma mentira no Brasil”. Alguns poderiam achar lógico que um presidente eleito pelas mentiras julgasse a verdade como falsa. Mas o problema vai muito além disso. 

A extrema direita e suas expressões fascitóides, como a brasileira, não é apenas entreguista e reacionária. Ela mata. Ou melhor, assassina. O que vemos hoje nesse atual governo nada mais é do que o assassinato sendo promovido como política pública. 

Temos os assassinatos de pessoas nas periferias, de opositores a Bolsonaro, de gente que os fascistas não julgam decente e o assassinato da nossa soberania junto com a nossa fauna e flora. 

Por último temos o assassinato pela fome. E essa é a última estação da barbárie. A ante-sala dela é aceitarmos e ignorarmos a sua existência e significado, ou seja, primeiro temos a demência da sociedade para depois aceitarmos a fome.

Por Carlos D'Incão.

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