Tá na internet: Provocações (Por Marcos Trindade)


Ontem à noite, após mais uma discussão estéril com um eleitor persistente do Bolsonaro, comecei a refletir sobre a incapacidade mútua que temos de entrar em entendimento, pois demonizar apenas e colocar a culpa no outro não parece ser uma boa forma de conseguir consenso, muito embora em casos assim seja bem possível que ele nunca venha a acontecer.


Perdido o meu sono, comecei a pensar na Maiêutica, técnica criada por um sábio da antiguidade que viveu há dois milênios e meio. Foi acusado e morto por seus concidadãos por “corromper a juventude do seu país”. Sócrates rejeitou a proposta de fuga, preferiu morrer serenamente a recusar obediência aos juízes iníquos, e é reconhecido como um dos maiores sábios da Humanidade, mas os seus verdugos foram relegados à lata de lixo da História. A Maiêutica, se bem me lembro, trabalha com a hipótese de que aquele que diz desconhecer no fundo sabe, o que pode ser conferido se o operador souber fazer as perguntas corretas. Não tenho a pretensão de saber fazê-las, mas não sou obrigado a não tentar.

Lembrei-me também de uma vinheta divulgada pela TV Futura, em tempos bem mais suaves, por meio da voz de Antônio Abujamra, aquele que fazia o programa “Provocações" e com a sua tonalidade forte e profunda citava Einstein: “Não são as respostas, mas as perguntas que movem o mundo...”

Assim eu faria as seguintes perguntas para ajudar o meu interlocutor parir o seu conhecimento. Sim, Maiêutica significa algo como dar à luz!

1) Eduardo Bolsonaro, filho do atual ocupante da cadeira de presidente da república, está para ser nomeado embaixador do Brasil em Washington, aguardando apenas que seja promulgada uma lei para burlar a Lei, uma vez que o mesmo nunca prestou concurso para estudar no Instituto Rio Branco, por dois anos, onde teria que assumir o “modesto” cargo de Segundo Secretário para depois ascender funcionalmente. O mesmo declara saber falar inglês e fazer hambúrgueres... Antigamente isso teria o nome de Nepotismo, mas agora que acabou a mamata que nome daríamos a essa aberração?

2) Antônio Mourão é filho do vice presidente, o General Mourão. Funcionário de carreira do BB ocupava até dezembro de 2018 um posto de gerência média na Direção Geral do Banco, em Brasília. Em janeiro deste ano foi promovido a Assessor Especial da Presidência, e agora em julho foi meteoricamente alçado ao posto de Vice-Presidente de Marketing, lembrando que o BB tem apenas um Presidente... Aí vai a pergunta: antigamente isso teria o nome de Nepotismo, mas agora que acabou a mamata que nome daríamos a esse absurdo?

3) Deltan Dallagnol, o garoto-prodígio de Curitiba, ingressou na carreira do Ministério Público por força de ação judicial proposta pelo papai, uma vez que não atendia às condições previstas para o exercício do cargo. Trabalhando arduamente com o juiz Moro infringiu os códigos legais por diversas vezes, sendo uma das mais graves o fornecimento de informações confidenciais da Petrobrás ao governo americano, sem a necessária autorização superior. O que se pensava ser uma ação atrabalhoada de uma criança incompetente mostrou-se uma trama sórdida, pois da multa de 8,5 bi de verdinhas aproximadamente 2.5 bi dessas mesmas verdinhas voltaram limpas e coradas para uma fundação esdrúxula que seria administrada sem controle algum pelo senhor... Deltan Dallagnol! Antigamente isso teria o nome de Lesa-Pátria ou Prevaricação, mas agora que a corrupção foi oficialmente extinta no Brasil que nome daríamos a esse conluio?

4) O excelentíssimo Sérgio Moro estreou nos jornais brasileiros com o Caso Banestado, que trouxe aos cofres públicos o prejuízo de cento e cinquenta milhões de reais, dos quais apenas dezessete milhões foram recuperados (valores de 1993, não atualizados, hoje seriam cerca de quinhentos e vinte milhões de reais). Os responsáveis, todos tucanos de alta plumagem, por fazerem parte da fauna nativa foram poupados do melindre, e apenas a arraia miúda pagou o pato. Bem, quando vazava ilegalmente conversas da presidente da república, pois um juiz de primeira instância não tem alçada para tal, alegava que “o povo tem o direito de saber o que fazem as autoridades”. Agora que um dos membros do grupo, provavelmente por medo do poder nazista conferido ao agora ministro, ou talvez por algum resquício de consciência, entregou arquivos devastadores ao The Intercept, Moro reclama da “invasão criminosa de celulares de procuradores”, celulares funcionais comprados com dinheiro público. Antigamente isso teria o nome de Quebra do Código de Ética da Magistratura e Hipocrisia, mas agora que acabou a mamata que nome daríamos a essa prática?

5) Uma pergunta a mais: como você acha que reagiriam o Congresso, a Mídia, o STF, as redes sociais e o povo em geral, se fossem descobertos trinta e nove quilos de cocaína pura em um avião da comitiva presidencial, com o agravante de ter o primeiro avião, que transportava o titular da presidência, desviado sua rota para não sofrer a mesma verificação? Proponho a múltipla escolha:

a) Pediriam Impeachment de forma imediata, por conta da gravidade do crime, que exporia o país ao ridículo frente aos seus pares;
b) Exigiriam que os dois aviões fossem desviados para as Filipinas;
c) Culpariam o sargento pastor traficante como único responsável por entrar em um avião que deveria ter máximo monitoramento de segurança com uma mala nada discreta contendo tamanha quantidade de entorpecentes;
d) Culpariam o SNI pelo crime, pedindo a cabeça do General responsável pelo órgão;
e) Passariam pano e minimizariam a ocorrência, por não ter a menor importância para o país.

Como disse, essas perguntas seriam feitas a uma determinada pessoa que vai ler esse texto e não responderá, por isso resolvi publicar de forma aberta, na ilusão de que algum internauta ainda não desiludido com o desgoverno do Bozo possa se manifestar. 

Agradeceria aos amigos que gostarem se puderem compartilhar, pois como me recuso a pagar qualquer coisa ao Facebook para “impulsionar” o que posto, os algoritmos do Zuckerberg não vão permitir que o texto chegue a mais de cinquenta pessoas. Vamos lá, não custa, eu poderia estar roubando, matando, sequestrando ou pedindo votos para o PSL, mas estou humildemente escrevendo e pedindo a sua colaboração...

Que Deus nos acuda, e que esse pesadelo um dia termine...

Por Marcos Trindade.

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