Não é de hoje que as
festividades juninas foram invadidas por ritmos que não o forró autêntico. E
não falo daquele Pé de Serra com um zabumbeiro, um triangueiro e um sanfoneiro,
muito bem representado pelo Trio Nordestino e a Fulô de Mandacaru, que já não
tem espaços em muitas cidades nordestinas invadidas por artistas que mais
parecem ETs (Extras Terrestre) em um mundo de diversão.
Desde que o pernambucano Jorge
de Altinho, nos anos 80, eletrizou o forró acrescendo a Banda, um contrabaixo,
uma guitarra e uma bateria, dando ao ritmo uma nova mistura que já se percebia,
algo novo estava acontecendo no forró. No primeiro momento aquele novo gingado
com uma batida mais acelerada, contagiou a juventude universitária e encheu salões
e praças de eventos.
Naqueles dias, o rei do baião,
Luís Gonzaga, já demonstrava não estar gostando dessas mudanças. Com sua experiência,
o Velho Lula, antevia essa mistura que hoje está acontecendo.
Na Bahia, o Chiclete com Banana
foi uma das primeiras bandas de Axé a perceber o filão existente e gravar discos
com a temática voltada para as festividades juninas. Foi o momento do forroxé
com, “no lume da fogueira, de uma noite de forró, pé e chão, chão e pó, se amam
como as estrelas, no azul do arrebol paixão, acesa como a luz do sol”. Começa
ali a ocupação dos espaços das bandas e artistas tradicionais do forró por
outros de maior visibilidade.
Com a entrada em cena do forró
eletrizado produzido no Ceará, com bandas como a Mastruz Com Leite e depois em
Sergipe com Calcinha Preta, estava definitivamente consolidada a mudança dos
estilos musicais e a festividade junina no Nordeste do Brasil deixou de ser um
atrativo para se tonar mero coadjuvante do espetáculo.
Cidades como Campina Grande na
Paraíba e Caruaru em Pernambuco deram a sua contribuição para este movimento do
fim de um ritmo autêntico e a ocupação do espaço por artistas de outras partes
do país.
Mas a mudança foi mais sentida
após o surgimento da Banda Brasas do Forró com seu “vaneirão” importado do sul
do Brasil. Eles misturaram o forró com o vanerão, música típica do Rio Grande
do Sul, e também muito presente na tradição do Paraná, Santa Catarina, São
Paulo e Mato Grosso do Sul. Tinham em Toca do Vale, um dos primeiros cantores,
o maior representante no Nordeste. De voz e estilo inconfundíveis, caíram no
gosto popular e foram copiados por outras bandas e artistas. Aviões do Forró, Caviar
com Rapadura e tantas outras, copiaram a fórmula e se deram bem por um longo período.
Nos dias atuais, Xand Aviões e
Wesley Safadão são produtos que foram germinados na entressafra entre o vanerão
e a “sofrência” de Marilia Mendonça, as ex-coleguinhas, hoje Simone e Simaria e
as gêmeas Maiara e Maraísa.
Para completar a invasão de ritmos
durante as festas juninas, este ano artistas como Gustavo Lima, Jorge e Matheus,
DJ Alok, Léo Santana, Amado Batista, Márcia Felipe, Jonas Esticado estiveram
presentes e participando dos arraiás das cidades. Teve sofrência, batidão,
música eletrônica, Axé, brega e até um pouco de forró. Sobrou animação, faltou
tradição.
Alguém avisa aos
administradores municipais que não basta ter praças repletas de gente para ver
artistas famosos. Nós precisamos inovar, sem acabar com a tradição do ritmo do
forró. Há que se ter responsabilidade para não deixarmos para o futuro sons descartáveis.
Não podemos abrir mão de uma
fogueira acessa na porta de casa, de fogos estourando na porta do vizinho, do
milho assado na brasa, da roupa de matuto na noite de São João, da quadrilha
tradicional e do quentão, para aqueles que bebem, durante todo o mês de junho.
Foto: Secom/Serrinha-BA.
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