Sinto dizer-lhes, meus caros. Estamos numa ditadura fascista. Nossa jovem e insegura democracia está morta.
Nenhum dos três poderes respeita a constituição. Estão todos corrompidos, carcomidos, investidos de cinismo e arrogância, com o apoio, infelizmente, de muitos.
O Judiciário, depostas as máscaras de ética e justiça, sob vistas de qualquer um, expõe sua face indecorosa, desfilando impunemente sob o manto escuro de suas togas.
O Legislativo, tomado por bancadas gananciosas, truculentas, ignorantes, enche a pança, tramando e comercializando descaradamente seus votos.
O Executivo, com performance mítica, estende seu protagonismo beócio e autoritário aos seus filhos, e juntos dizem e fazem o que bem entendem.
As raras exceções deste trágico cenário político são ameaçadas, perseguidas, demitidas, expulsas, encarceradas, assassinadas.
Os direitos do povo são diariamente desrespeitados, desprezados, suprimidos.
O Estado laico torna-se terrivelmente fundamentalista.
Autorizados, os tratores avançam sobre os povos originários e as florestas.
A saúde, a educação, a ciência e a cultura são mortalmente atacadas, num claro projeto higienista, de controle dos corpos e de homogeneização do pensamento.
A violência contra as minorias é incentivada e cresce, regada a escárnio e banalização.
A miséria e a precarização do trabalho reacendem a escravidão, que, de fato, jamais foi banida.
A subserviência e o entreguismo ao capital estrangeiro reafirmam a nossa condição colonial.
O crime, organizado, municiado e institucionalizado, toma de assalto as rédeas do país.
Sob o ataque virtual de robôs e de bombásticas notícias falsas, deixamo-nos enredar pela guerra midiática, alguns crédulos, outros perplexos, todos apáticos e adoecidos.
As vozes críticas, mesmo aquelas mais afinadas com os propósitos deste governo, são vigiadas e pouco a pouco silenciadas.
O deboche, linguagem eleita para o serviço sujo, desenha personagens de uma vilania tão caricata e cativante, que vamos nos acostumando a rir de seus atos maléficos.
Vivemos tempos cruéis. E o pior já se aproxima. Se você ainda não percebeu, logo vai perceber. Se isto não lhe afeta, provavelmente afetará um dos seus.
Ninguém, ninguém está a salvo das botas que se posicionam sorrateiramente sobre nossas cabeças. Tão sutis quanto mortais."
Por Kátia Freitas.
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