BOM AMIGO

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) tem um vizinho no município mineiro de Buritis que todo fazendeiro gostaria de ter. Em vez de avançar a cerca sobre a propriedade alheia, como de hábito no meio rural, a construtora Camargo Corrêa mantém sempre aberta a porteira que separa sua fazenda da gleba presidencial. Quem também mora por ali está acostumado a ver um intenso movimento entre as duas propriedades: pessoas saindo da fazenda Córrego da Ponte, de FHC, entrando na Pontezinha, da Camargo Corrêa, e voltando à Córrego da Ponte. A atração na Pontezinha é uma ampla pista de pouso que costuma receber mais aviões tripulados pela corte do presidente do que jatinhos de uma das maiores empresas do País. “Nunca vi avião nenhum da Camargo Corrêa pousando ali. Mas da família de Fernando Henrique não pára de descer gente”, conta o fazendeiro Celito Kock, vizinho de ambos e atento observador do trânsito aéreo na região. A pista particular tem 1.300 metros de comprimento e 20 metros de largura, asfaltados numa grande área descampada. Um estacionamento com capacidade para 20 pequenas aeronaves completa o aeródromo.
A pista, avaliada em R$ 600 mil, começou a ser construída no dia 1º de julho de 1995 e foi concluída em 30 de setembro daquele ano. Apesar de ter os equipamentos necessários para a obra, a Camargo Corrêa encomendou o serviço à Tercon – Terraplanagem e Construções, numa autêntica troca de gentilezas. Meses antes, a Tercon havia conseguido um bom negócio ao ser contratada pela Camargo Corrêa para fazer a ampliação do Aeroporto Internacional de Brasília – empreitada que só terminou anos depois. Com isso, não se furtaria a retribuir o favor. O registro oficial da pista no Departamento de Aviação Civil (DAC) foi feito no dia 23 de outubro de 1995, com a publicação da portaria 175/EM3. Está autorizada a receber aviões do tipo Bandeirantes e Lear-Jets. O engenheiro responsável pela obra, Marcelo Ávidos, elogia a qualidade da pista, discorda das restrições de pouso impostas pela Infraero e garante que o aeródromo está preparado para grandes aeronaves. “Até um Boeing 737 pode aterrissar ali”, atesta Ávidos. A fazenda Pontezinha é de propriedade da Agropecuária Jauense, uma subsidiária da Camargo Corrêa, que produz ali milho, feijão e soja. Procurado por ISTOÉ, o diretor administrativo da Jauense, Dorivaldo Ferreira, não foi localizado na semana passada, apesar de haver sido destacado pela empresa para tratar do assunto.
Por MINO PEDROSA.

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